sábado, 23 de junho de 2012

Um extrato de too much a sobreviver na memória dos outros


Ser um cabeça-de-vento 
-viver no mundo da lua, luftmenschar-(se), saber bem exilar-se de onde canta o sabiá

do admirável ensaio de Flusser sobre “Exílio e Criatividade”, a seguinte passagem, aspas: 

o expulso é gente desenraizada que busca desenraizar tudo em volta, para poder enraizar-se. E age assim espontaneamente, simplesmente porque foi expulso. É quase um processo vegetal. Quiçá seja possível observar isso quando se transplantam árvores; e que talvez a dignidade humana resida em não ter raízes – que um homem primeiro se torna um ser humano quando ele arranca as raízes que o prendem. Em alemão há um termo deplorável, Luftmensch, um homem descuidado “com sua cabeça no vento”. O expulso talvez descubra que vento e espírito são termos intimamente relacionados e que, portanto, Luftmensch signifa essencialmente ser humano

fecha aspas. Sim. Pedra que muito se muda. Mas o cabeça-de-vento (Luftmensch) -ou vulgo sem-chão (bodenlos) - de Flusser habita por excelência a utopia. De outro modo é notável como essa forma de pensar dialoga diretamente com a Simone Weil de O Enraizamento. Ou seja, que já na década de 40 essa autora, também judia como Flusser, também deslocada e assimilada culturalmente como ele - ou até mais, por haver se convertido ao cristianismo - já tenha divisado que a questão do enraizamento - que envolve a do migrante e a do exílio - é uma das questões sem qual, nós, na modernidade pós-industrial, não caminharemos se não pensarmos nela. 

e não pensaremos nela, se não caminharmos 

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