terça-feira, 19 de junho de 2012

Branca de Neve é bicho


"Não é bicho não, Arthur. É uma moça. Uma pixota. Uma mocinha. É como a Deusedite". 

"Nietzsche não ia gostar dela. Porque ela seria a impossibilidade do Super Homem"

Um dia Arthur entendeu que Branca de Neve era bicho.
-Não é bicho não, Arthur. É uma moça. Uma pixota. Uma mocinha. É como a Deusedite. Bicho, não é não – disse o Jogador de Damas.
-É bicho, sim. É coisa dos Grimm. Mas foi o Disney que deu um mundo pra ela. E lá, os ratos, cavalos e patos falam. Se vestem, ganham dinheiro, sentam à mesa. E é porque os humanos é que são bichos. Inclusive quem faz uma maldade dessas com eles: gente falar com esquilo. Ou cavalos tanger cavalos. E além disso, vivem prendendo os pobres dos Metralhas, que são as únicas criaturas decentes naquela curriola toda.
Isso fora um pouco além da conta para o Jogador de Damas, que não só não gostava, não entendia, como desconfiava de paradoxos. E, então, voltou ao estudo da próxima jogada, no tabuleiro junto aos rolos de fumo. Mas não sem antes largar um:
-Todomundo acha a Branca de Neve linda de morrer.
-Só pode – retrucou Arthur - ao redor dela só tinha bruxas e anões! Eu prefiro a Rainha Má. Mas onde eu quero chegar, Jô, é na prova de que além de ser uma anã moral, Branca de Neve era de fato bicho. Nietzsche não ia gostar dela. Nem um pouco. Porque ela seria paradoxalmente a impossibilidade do Superhomem.
-Agora, você misturou tudo. Disney, os clássicos Marvel...
-Você também acha que ela é uma ameaça à ideia da pós-história?
Mas a essa altura, o Jogador de Damas já quedava completamente entretido no estudo da próxima jogada. O Terceiro Excluído ainda não tinha chegado. O Álisson fora comprar cocaína. E, logo, Arthur viu-se ainda mais desesperado, porque não tinha com quem partilhar aquele utilíssimo insight. Nem mesmo com o Narrador, que fora passar uns dias de licença prêmio na Praia do Discurso Indireto Livre, ali perto de Morro Branco. 
Agora, sim, Arthur achava que tinha chegado a algo grande. Uma dedução que provavelmente seria um divisor de águas conceitual na vida da comunidade:

-Branca de Neve é bicho.

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