Piet Mondrian
Meu
pai é um ruído de chaves. E passos surdos. E um ângulo. Uma falta de palavras em
Oviedo. Um passar, sem olhar para os lados, pela praça. Meu pai são
cabelos cinzas logo depois da infância. Serões de trabalho. O corpo
franzino. Rematada incapacidade de carinho, meu pai é apenas dever.
Meu pai são os dias em que você não me veio ver: por que era melhor
estar com a outra? E o que mais nas suas fantasias de amor-cortês? Ou o triângulo amoroso que a gente quer para si
ardentemente como uma flâmula? O gole de conhaque, ao modo de um
luxo que se toma emprestado de enredo barato? E quando se tem a noção
do estrago, aí a hora é já de partir, meu Pai? E o peso dos não ditos há
de sempre vergar nossas costas. Como uma mochila cheia de aporias.
E
a insípida regularidade das refeições e dos horários. Para nada.
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