Piet Mondrian, 1898
Os
sequestradores tinham cara de sequestradores nas fotos. A cabana que
utilizavam não era forrada. Havia camas dispostas contra as paredes
e janelas abertas ao sertão. A bagunça provavelmente fora feita na
revista policial. Havia um alpendre. Tão baixo que era agachar-se para se pôr sob ele. E uma viatura da polícia atravessando o curso de um rio na estiagem, provavelmente a pedidos da equipe de reportagem. O
cabeça era um tipo caucasiano, calvo, de barba mal-feita. Uma
cópia de sua identidade foi mostrada enquanto rotundos oficiais
depunham ao microfone. Um deles veio do Pará no encalço dos bandidos. O
delegado tinha mais de suíno que de delegado. Poderia ser uma
espécie de figurante modelo em quadros de Bosch. Ou parte da
classe dirigente em Animal Farm. E sem carecer maquiagem. Um desses
guardiães do inferno. Deve haver um comércio terrível de
interessante entre mídia e polícia. Também se mostrou um
Volkswagen com marcas de bala no chassi. Gerentes de banco e
autoridades se pronunciaram. A apresentadora tentou fazer um
semblante de preocupação, desagravo. Não conseguiu. E a cena
mudou para a amenidade de um PV vazio, um pouco à penumbra, à
espera da hora do jogo. E depois para um desses congressos quase
compulsórios, mas que a gente esquece que foi, quando os anos
passam. Eles são verdadeira mania dos telejornais locais. E ajudam a
tornar personalidades por três dias obscuros professores de
universidades estaduais.
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