Pessoas têm o desejo que um punhado de letras traduza uma
complexidade, uma barafunda de sentimentos, sensações, condições
e estados de espírito que são elas próprias. Que resgate, de algum modo, o que já esteve lá, escrito nas estrelas. Como fosse possível alguma correspondência. Ou uma caligrafia estelar, constelacional, que se pudesse reproduzir na ponta do lápis. Ou, mais adiante, coincidir com vida. Assim, sem mais.
Mas
o que corresponde tem três dimensões e é, no mínimo, do reino
animal: cachorro, golfinho, celenterado, formiga. E o que coincide não tem olhos
para fora de si. Jamais poderia ver a coincidência mesma, ficando
para sempre aprisionado nela, de nascença. Pois coincidências e
prisões têm o mesmo termo em latim no nome
científico. São primas e já se amaram. Armaram poucas e boas. Arapucas. E nenhuma janela para fora. Só um terceiro excluído
pode vê-las, imigrante e solitário que é.
Imigrantes e solitárias que são, não se deixam ver à auto-suficiência. Mas então há essa necessidade tão violenta de espelho, que letras despertam lágrimas. E não por serem parecidas com pessoas. Não há imagem para discussão. Mas por saciarem nelas o desejo de se acharem parecidas tout court. De se acharem parecidas com paus e pedras. Marés e rios. A corda si, o naipe de copas, o Pico da Bandeira. Abóbadas, funâmbulos, sextas-feiras e o alfabeto cirílico.
Imigrantes e solitárias que são, não se deixam ver à auto-suficiência. Mas então há essa necessidade tão violenta de espelho, que letras despertam lágrimas. E não por serem parecidas com pessoas. Não há imagem para discussão. Mas por saciarem nelas o desejo de se acharem parecidas tout court. De se acharem parecidas com paus e pedras. Marés e rios. A corda si, o naipe de copas, o Pico da Bandeira. Abóbadas, funâmbulos, sextas-feiras e o alfabeto cirílico.
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