domingo, 13 de maio de 2012

Uma queda de 10% para 10% e a eficiência norueguesa

Roald Kristian, sec. XIX


Na semana passada, de acordo com o Público, o mais atrapalhado de todos os grandes jornais em língua portuguesa, o Banco Central da Noruega, que recentemente desfez-se de toda sua participação nas dívidas portuguesa e irlandesa, também reduziu sua participação de títulos em libra esterlina de 10% para 10%. 
Fantástico, o Público cria um novo conceito: o de que empate é redução.
Depois, alertados pelos próprios comentários dos leitores, as cifras mudaram: “11% para 10%”, queda de 1%. Quem não tivesse visto o surto de surrealismo do empate-redução tomaria essa redução de 1% por um desses fetiches quase eróticos.
O que não escapa à atenção é o fato de os noruegueses ao mesmo tempo que se desfazem de títulos europeus de dívidas podres, investirem massivamente em títulos norte-americanos e dos emergentes: Brasil, México e Índia. A Noruega responde por um dos PIB per capita mais elevados do mundo. E sem produzir muita coisa, além de algum petróleo, gás, certas cifras manipuladas, um vigoroso nivelamento da renda, certo outsourcing, algum tédio e uma angústia existencial do tamanho de atiradores de elite auto-adestrados. Ou do inverno com suas noites sem fim nos fiordes gelados. 
O principal gestor do Banco Central norueguês, por sinal, são fundos de pensão. Isso não se aponta, no entanto, pois vai de encontro aos privatistas de plantão. E seria mais ou menos como indicar que a excelência, a crème de la crème do mundo capitalista, é gerida por fundos de pensão de ex-funcionários públicos, aposentados em estado de social welfare. Mas a pergunta simples, que não quer calar: de onde a Noruega retira, afinal, tanta prosperidade? E não vale dizer que é dos olhos azuis e grises de suas bem nutridas moçoilas. Ou do petróleo e do gás do Mar do Norte. Ou ainda da madeira, que segundo Lennon sequer dá para acender direito, e aquecer um caso extraconjugal. Isso não parece justificar muita coisa.
Mas faz tempo que economia e nonsense parecem habitar a mesma vivenda. Ou serem tão esquizóides quanto os que foram condenados a viver seis meses enfurnados na noite contínua de um desses fiordes nos cafundós do Polo. O excedente de existencialismo nos filmes do vizinho Bergman bem que se justifica. E se vivêssemos em tempos mais sinceros, saudáveis e, portanto, politicamente incorretos, talvez fosse de bom tom aproximar a economia e o samba do criolo doido. 

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