Querida,
A., falo daquele post em que você diz da angústia do jovem escritor
em comentário ao artigo do proprietário da grande editora. E posso divisar o quanto ele difere do estado de espírito de seu provável orientador.
Nem
precisa ser mais. Ser menos. Ser de todo. Não ser ou ser. Ou nada
ser de burguês, para sacar que gostei daquele texto. E que aquele
texto podia ter sido um manifesto ou quatro coisas: 1. poema do Chico Alvim; 2. Poema
do Leminski; 3. Poema do Cacaso; 4. conto do Dalton Trevisan dos bons
tempos; 5. Crônica do meu querido amigo Aldir Brasil Jr. Em geral, quatro coisas
acabam desovando em cinco.
É
isto. É esse mundo tenebroso do outro lado das páginas. Não é
porque apareceu o mundo digital que ele deixou de existir – embora
a percepção dele haja sido radicalmente afetada pelo advento da Tia
Nete. E hoje não se pode viver lá no Céu, lá perto de Nosso
Senhor, sem também filtrar-se e receber as boas-novas através de
fotos instantâneas e arquivos de vídeo. Essas carícias digitais que vulgarizam à vista de todos os bilhetes mais íntimos. ( Como este? )
Aliás,
o mundo para além dessas páginas não tem achado muito espaço. A
gente não encontra mais o Seu Para Além de Páginas por aí. Não
encontra mais na poesia. Ou nessa literaturazinha cosmética, que
anda meta demais, poscuspida demais, posgraduada demais. O aluguel
atrasado, contas a pagar, incertezas de chofre, aos montes, aos
borbotões, em qualquer tempo ou afeto. Sob qualquer invocação.
Elas precisam de um pouco mais de pé, irmã, irmão. Senão não
dá, Irmã Lua.
Não
se pode calçar metatênis. Ou andar por aí com metapés... Ou
plantar metabananeiras em metachãos. Ou ser metafranciscano ao se caminhar em metadesvairio divino por uma Metaumbria.
Por
algum tempo descri da caixa de comentários. E achei que a
caixadecomentarologia não era gênero que se prezasse. Coisa séria.
Ou algo que o valha. Que nada ou ninguém podia redimi-la. (A não
ser talvez no Daily Mail). Que não tinha espaço nela para uma
resposta digna. À altura do leitor que todos somos. (Que sonhamos
ser). E os mais aloprados nunca vão deixar de sê-lo. Os mais
perfeitos, moralmente falando. Pois não existe perfeição maior que
a do leitor. O leitor que apenas lê, ponto. E não sente qualquer necessidade de
comentar. Mas, ainda assim, a partir de hoje, a caixa de comentários
voltou a ser uma esperança, querida A.
A
esperança, A., que mais esse gênero se afirme.
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