sábado, 15 de setembro de 2012

Nossas Ruas Eram Frias



Houve um tempo em que achávamos que o futuro da música brasileira passava pelas mãos de Arrigo Barnabé. E, depois que isso foi sonoramente desmentido pelo rock nacional e o sertanejo nos 80, e pelo axé e o pagode nos 90, voltamos, Seu Zé, ao ponto futuro, no esquema tático da música: o futuro passou de fato pela música de Arrigo Barnabé, Itamar Assumpção, Grupo Rumo, Tatit, Vânia Bastos, Tetê Espíndola, Ná Ozzetti...Era justificado e meio o fascínio que eles despertavam naquelas audições ao mesmo tempo reverentes e entusiasmadas, entre amigos e iniciados, na casa de Márcio Figueiredo, ali na Tibúrcio. Ou em casa de Virgínia e Pádua, na Cidade dos Funcionários.
Outro dia, ouvi “Cidade Oculta”, que escutávamos na década de 80 como fosse recado de profeta. A volta ao deslumbre foi imediata. E estranho perceber: aquele tema que achávamos dissonante, deliciosamente vanguardeiro e um pouco estapafúrdio, apocalíptico, sombriamente urbano e deprimente, na verdade - hoje compreendemos bem - soa tão próximo de Jobim, de Edu Lobo. E não só na harmonia. E é coisa de um músico e sua porção lírica. E, ouvindo melhor, a poesia nunca deixou de ter razão:


Outra favorita era este pequeno lúcido delírio em forma de samba, com as luxuosas participações de Paulinho da Viola e de Vânia Bastos. (E por que as coisas de vanguarda daquela época, já naquela época podiam ser assim tão fruíveis e deliciosas?):

http://bit.ly/MFDmbE 

Um dia, quando escrever a História Geral da Década de 80 do Ponto de Vista Maníaco-Depressivo, hei de reivindicar essas músicas. Saravá, Nego Dito: 

http://bit.ly/zIOsJN

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