Marisol, 1993
Tenho
para mim que a única arte moderna a ser lembrada no futuro não será
o cinema, mas o futebol. E, ainda assim, para criar alguma coisa no
futebol, dificilmente é necessária a imobilidade. A tal vida
contemplativa.
Ainda
bem, não temos um poeta laureado, como os ingleses. Candidatos não
faltariam. Temos, isso sim, um craque laureado, o que é muito menos
subjetivo, convenhamos. Além disso, o craque laureado ganha um
caminhão de dinheiro. E, o melhor, nem um centavo dessa grana vem do
contribuinte, via mecenato estatal, como na Inglaterra.
Vejam
Neymar, o atual “artista” nacional. Neymar tem causado polêmica
nos últimos tempos. E não por suas mobilidades, que, no geral,
sobre um gramado, até que nos encantam: criando chances de gol, assistindo-as, serrando espaços onde não há, esquivando-se pelos desfiladeiros enzagueirados, achando brechas no muro de pedra, convertendo gols. Mas precisamente por uma imobilidade.
Como podem ser criativas também as vidas que apenas contemplam, mesmo no caso de um futebolista!
Quando
do nascimento de seu filho – que não foi propriamente fruto de uma imobilidade - há pouco mais de um ano, Neymar fez o
obstetra fechar a clínica só para si e a futura mamãe. Isso implicou em salas vazias, equipamentos ociosos. Em certa imobilidade-ambiente. Preço: R$
45.00,00. Uma bagatela, que teria custado
nadicas, se Neymar houvesse lançado mão de seu plano de saúde,
entrado na fila, agendado dia e hora. Como os demais brasileiros.
Mais ou menos imóveis. Suando sob o sol.
O
problema é que, de acordo com o médico, Neymar ainda não pagou a
conta. Ele está sendo processado por essa imobilidade, deveras
criativa. Criativa para o bolso do próprio Neymar. Sem dúvida.
E
logo ele, tão lépido em campo. Tão fagueiro diante dos microfones abertos ao pós-jogo. E por que demora em criar um pagamento?
E
não há um problema crônico aqui? O médico, que não parece lá
grande coisa com uma bola nos pés, por fim mobilizou-se. E acusou
Neymar de mau pagador. E até entrou com um processo na justiça.
Periga ganhar o jogo. A celeuma foi parar na imprensa marrom e não tão marrom assim. E tome processo.
Fosse
Neymar Zenão, teria outras defesas. Sabe como? Instaurando um
paradoxo do futebol. Há o infinito entre o 0x0 e o 1x0, etc.
Ou
talvez um outro paradoxo: o das contas a pagar.
É,
pensando melhor, este último seria um paradoxo bastante disputado.
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