quem
não percebe a tendência contemporizadora da cultura
brasileira é também incapaz de temperá-la mediante acréscimos e analogias – as melhores das quais, perfeitamente inesperadas. E, logo, ao invés de fortalecê-la, a deprime. Essa tendência para o
acordo antes que para a confrontação é tão ampla, que, numa das poucas
artes marciais não asiáticas a difundir-se ao redor do globo, a
capoeira, os atletas – chamados brincantes ou jogadores
– sequer se tocam. Seus pés, mãos, joelhos, cotovelos, passam
voando como lâminas afiadas, muito rentes ao corpo um do outro,
mas em momento nenhum há toque. A não ser quando se cumprimentam. O resto é movimento. É a vitória da civilização sobre a truculência. E, então, eventualmente na roda, fazem soar juntos os atabaques. A capoeira, ao invés de luta, virou
jeito de corpo, coreografia, dança, linguagem.
Mas também quem só faz atenção aos movimentos, aos ritmos, perde a noção da beleza lamentosa e cheia de chagas que segue entoada nos cânticos e refrões de capoeira. É algo forte como nos blues, onde a tristeza assenhora-se do tempo. E é preciso exorcizá-la. E o exorcismo se dá através dela, remindo-a. E há melhor forma de fazer isso do que cantando?
Conjugando tudo, essa
é a mesma chispa, a mesma energia presente no drible do futebol. A que lega a nossos jogadores aquele plus necessário para
improvisar coisas que os outros não acham tempo nem espaço de bolar. Coisas que simultaneamente são de vanguarda e do arco da velha. E eles próprios não estão nada inclinados a separar entre sedimento e novidade. (Essa não vocação para enveredar pelas especiosas comodidades do meta alimenta). Futebol é quase sempre intuição. Se não fosse, não pareceria com vida. Nem seria assim popular.
Mas, em outra instância, se tomarmos o frescobol, esporte de praia criado no Rio, é para notar sua índole cooperativa. Como na capoeira, não há vencedores ou vencidos. Nem mesmo uma competição expressa. Porém ambos os praticantes empenhados numa cooperação. Em reunir-se em torno de algo que, não só é prazeroso, como maior que a individualidade de cada um: o bem-estar físico e mental de ambos. A beleza, a sincronia dos movimentos. E de novo a tal inclinação para contemporizar.
E não há nisso uma sabedoria análoga à do budismo zen?
Mas, em outra instância, se tomarmos o frescobol, esporte de praia criado no Rio, é para notar sua índole cooperativa. Como na capoeira, não há vencedores ou vencidos. Nem mesmo uma competição expressa. Porém ambos os praticantes empenhados numa cooperação. Em reunir-se em torno de algo que, não só é prazeroso, como maior que a individualidade de cada um: o bem-estar físico e mental de ambos. A beleza, a sincronia dos movimentos. E de novo a tal inclinação para contemporizar.
E não há nisso uma sabedoria análoga à do budismo zen?
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