segunda-feira, 27 de julho de 2009

O que não pode ser transposto: Weil


Jess, Narkissos, the last translation, c.1978




Entre as mais sábias palavras sobre tradução

“Os obstáculos materiais – falta de lazer, fadiga, falta de talento natural, doença, dor física – atrapalham na aquisição dos elementos inferiores ou médios da cultura, não na dos bens mais preciosos que ela encerra. O remédio para isso é um esforço de tradução. Não de vulgarização, mas de tradução, o que é bem diferente. [...] A arte de transpor as verdades é uma das mais essenciais e das menos conhecidas. O que a torna difícil, é que, para a praticar, é preciso ter-se colocado no centro de uma verdade, tê-la possuído em sua nudez, por trás da forma particular sob a qual ela se encontra por acaso exposta. [...] De resto a transposição é um critério para uma verdade. O que não pode ser transposto não é uma verdade; do mesmo modo o que não muda de aparência segundo o ponto de vista não é um objeto sólido, mas uma ilusão ótica. No pensamento há um espaço de três dimensões".

[Simone Weil, O Enraizamento [L'Enracinement, 1949], trad. de Maria da Paz Loureiro, Ed. Edusc, 2001, p. 64 --- grifos nossos]


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