quinta-feira, 2 de julho de 2009

De novo e de novo e de novo: Creeley


James Ensor, Masks Confronting Death, 1888


Waiting


Were you counting the days

from now till then


to what end,

what to discover,


which wasn’t known

over and over?


Robert Creeley



À Espera


Contavas os dias

da noite ao jornal


até o final,

para esclarecer


o quê? aquilo que já se está

careca de saber?



Esperando


Contavas então os dias

de lá para cá


até o final

para descobrir o que o povo


faz que não sabe

de novo e de novo?


Aguardando


Contavas então os dias

daqui até lá


até o final,

o não descoberto,


o não sabido

de perto e de perto?




Nota – este poema, no seu trio malogrado de versões em português, dá uma noção de porque Creeley é Creeley: engenhoso, lançando mão de palavras simples, banais, prosaísmos que ganham uma dimensão filosófica. De como é difícil traduzi-lo. De como, a seu modo ele intui sintaxes que põem em xeque esquemas de pensamento. E revitaliza rimas que remetem a Thomas Hardy e Robert Frost – um autor que, de resto, abominava. Ou de como sendo de vanguarda, ele “não era de vanguarda”. Ou seja, estava lixando-se para o rótulo. Seu herói era D.H. Lawrence. Há poucos autores tão da "fala americana", na linhagem de Williams, quanto Creeley. Pode-se resumi-lo, em seu anti-intelectualismo sofisticado, como um herói da cultura americana. Como neste pequeno poema, por exemplo.



* * *



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