segunda-feira, 27 de julho de 2009

O jornal como arquivo mais reluzente que o jornal como jornal


[s/i/c]


A Morte do Gráfico


Morre o gráfico Antônio de Sousa Louro

Faleceu um dos gráficos mais antigos do Ceará, Antônio de Sousa Louro, que ao lado de Demócrito Rocha e Paulo Sarasate, assistiu o nascimento do O POVO. Desaparece o velho e querido companheiro com 75 anos, completados a 15 de junho passado, e depois de prestar os melhores serviços a este jornal, ao longo de 39 anos. Choramos a morte do velho companheiro que foi, também, um bom professor. Desejamos que se encontre com os bravos, ao lado dos quais lutou. [O Povo, 25.07.09]



Esta foi a notícia que me chamou mais atenção em edições recentes de O Povo. Foi publicada originalmente em 25 de julho de 1969. E republicada na seção Um dia como hoje - em que se reproduzem matérias publicadas há várias décadas, pois o jornal já é um dos mais antigos do Brasil. Por várias razões a matéria chama os olhos. Havia artes gráficas manuais, nos jornais de então. Pode-se imaginar a incessante faina. Os tipos. Um mundo mecânico de graxa e músculos. Um em que a mão humana moldava formas [muito mais do que clicava mouses]. Paciente composição. Intenso trabalho braçal. O produto final de todo esse trabalho, o jornal, se torcido , ao final de sua composição, pingava suor. Um suor cor nanquim. Suor e tinta. Trabalho daquele tipo que Simone Weil nos adverte: “é fácil perceber o lugar que o trabalho físico deve ocupar numa vida social ordenada. Ele deve ser seu centro espiritual.” De resto, o velho gráfico morreu em tempo adequado. O Povo, que ele viu ser fundado, em 1928, incorporou o primeiro parque gráfico em off-set do Ceará, dois anos depois de sua morte. Em que diário hoje ao redor do mundo encontrar-se-á a morte de um colega expressa em frases como: "desaparece o velho e querido companheiro" ou “choramos a morte do velho companheiro que foi, também, um bom professor”?



* * *


Nenhum comentário:

Postar um comentário