segunda-feira, 13 de julho de 2009

Morrer a ter de olhar: Sexton


[s/i/c]



Cigarettes And Whiskey And Wild, Wild Women



Perhaps I was born kneeling,

born coughing on the long winter,

born expecting the kiss of mercy,

born with a passion for quickness

and yet, as things progressed,

I learned early about the stockade

or taken out, the fume of the enema.

By two or three I learned not to kneel,

not to expect, to plant my fires underground

where none but the dolls, perfect and awful,

could be whispered to or laid down to die.



Now that I have written many words,

and let out so many loves, for so many,

and been altogether what I always was—

a woman of excess, of zeal and greed,

I find the effort useless.

Do I not look in the mirror,

these days,

and see a drunken rat avert her eyes?

Do I not feel the hunger so acutely

that I would rather die than look

into its face?

I kneel once more,

in case mercy should come

in the nick of time.



Anne Sexton



Cigarros e Uísque e Mulheres Loucas, Loucas



Talvez tenha nascido prosternando-me,

a tossir durante o longo inverno,

a esperar o beijo do perdão,

provinda com uma paixão pela vertigem,

e, no entanto, no correr do tempo,

cedo aprendi sobre o presídio

ou ser solta, a espuma do enema.

Aos dois ou três aprendi a não prosternar-me,

não esperar, a semear meu fogo subterrâneo,

onde ninguém, a não ser bonecas, perfeitas e horrendas,

pudessem ser alvos de boatos ou morrer à míngua.



Agora que já escrevi tantas palavras,

e liberei tantos amores, para tantos,

e passei por tanto do que já fui desde sempre—

uma mulher de excesso, de zelo e ganância,

acho debalde o esforço.

Não sou eu que miro o espelho,

esses dias,

e vejo um rato ébrio driblar-lhe os olhos?

Não sou a que sente a fome tão aguda

que prefere morrer a ter de olhar

o rosto dela?

Prosterno-me uma vez mais,

para o caso de o perdão chegar

no talho do tempo.




Nota - agradeço a Aldir Brasil Jr. por me haver chamado a atenção para este poema.

* * *

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