sábado, 19 de novembro de 2011

Rompendo com a paisagem da pasmaceira

[s/i/c]

De Fronteiras e Tarefas

O escritor mais lúcido confere à sua escrita uma liminaridade. Ele caminha entre dois desertos: de um lado, os escritores encerrados apenas nas referências da província – perfeitamente incapazes de enganchá-las a nada mais, de relacioná-las a outras ideias mais amplas; do outro, os que pensam que é possível safar-se da origem pela esgrima de um cosmético cosmopolitismo de meia-tigela – inábeis também para coser, mas em movimento reverso aos primeiros.¹ Nesse cenário de estéril imobilismo. Nessa paisagem da pasmaceira, se move o escritor-exceção, que nem quer abdicar do saber local, tampouco achar que esse saber esgota TUDO. Ele move-se por um ouvido, um coração e sua própria capacidade de fabular. È difícil mover-se nessa liminaridade. Mas há os que sabem tramá-la a contento. E escolher no local as locações universais de seu cinema.

E quando se volta o olhar para os lados, é um prazer perceber que há um senso de companhia quando se lê Virna Teixeira (inclusive a lufada de ar que são suas traduções), Carlos Augusto Lima (que é também um editor discreto), Diego Vinhas (não menos por sua preocupação de arejado antologismo), Rodrigo Marques (que recentemente lançou O Livro de Marta) e Eduardo Jorge Oliveira (o que mais se aplica à sondagem das possibilidades de  fissura  e superposição de linguagens, suportes) entre outros. Há neles esse senso de partir da mesma sesmaria do coração para recompartir, lá, mais adiante, diferentes formas, somas e andamentos. 

Uma companhia hábil.


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¹E nessa alameda, os dois tipos se merecem em suas respectivas cegueiras. Embora o "cosmético de botequim" seja ainda mais torpe que o "escritor da terra" ou pequeno cronista --- porque ao mesmo tempo mais fátuo, vazio. O pequeno cronista ao menos toma para si uma tarefa que outros não farão de fora para dentro, a não ser lastrados em clichês hediondos.


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