Dia desses de graduação, ela queria porque queria que Inocência, a do romance de Taunay¹, fosse uma ativista do feminismo em pleno século XIX, nos cafundós do Mato Grosso, cercada por brutamontes e bugres.
Era querer porque querer demais e em desconhecimento de causa. O que faltou notar: ao seu modo, Inocência foi transgressora. Na estreita margem de transgressão possível a uma mulher naqueles tempo e local: bulir com regras de casamento arranjado, ter um caso com forasteiro.
Só caiu a ficha, quando, alguns anos depois, já curada da adolescite - mas não ainda do fetiche das curadorias - começou a trabalhar no jornal. E viu que o buraco era abissalmente mais embaixo do que supunha sua vã filosofia de menina revoltada. E que, aliás, muito do que ela julgava ser filosofia, na graduação, agora não era mais do que vilosofia.
Uma teoria vã e vil. Escrita por homens. Para homens.
Uma teoria vã e vil. Escrita por homens. Para homens.
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¹Alfredo d'Escragnolle Taunay, o mesmo que Gilberto Freyre, em seu clássico desbocamento, disse ser “uma moça”, para sublinhar o refinamento de sua educação e a contenção na expressão de seus sentimentos. E inclusive em Inocência, o romance, reconhecidamente um reflexo de certa viagem de Taunay por um Brasil Central e consideravelmente mais remoto à época.
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