segunda-feira, 4 de outubro de 2010

Agregar importância, Suicídio, Palhaço, Eleições - quatro fatias vadias

[s/i/c]




Four Quick Draws and Three Ones to Listen With Care


A surpreendente votação de Marina Silva é o dado mais interessante – e estimulante – deste primeiro tempo. Assim como, aqui pelo Ceará, a demolidora derrota de Tasso Jereissati. Este revés parece indicar para certo ostracismo político. E o de um cacique que vem dando cartas, por aqui, ao menos desde 1987 - e cuja principal virtude não é propriamente a simpatia. O temperamento de Tasso o indispôs com quase todos os seus ex-aliados. A ponto de apoiar o mais despreparado dos candidatos ao governo do estado: Marcos Cals. E, no entanto, Jereissati tem muito do que cuidar. Especialmente no Ceará e em São Paulo, onde os Shoppings Iguatemi são apenas a face mais visível de seu conglomerado econômico.

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Falar em shoppings: qual a relação entre espaços e morte? Que cinco suicídios tenham se dado no Shopping Aldeota nos últimos anos não será mera coincidência. 
A questão do suicídio. 
Está no centro do pensamento de Camus. Bresson, que era católico praticante, parece, a certa altura, pensar o suicídio como um meio legítimo de pôr fim à vida diante de um mundo excessivamente caótico. Uma espécie de mundo poluído literalmente e literalmente. Quer dizer, pela depredação ambiental e pela inflação de informações - sobretudo via letra + imagem. Essa sorte de reflexão surge mais intensamente em filmes como MouchetteUne femme douce e Le diable probablement. De resto, como soam infames essas piadinhas que se lê por aí. Do tipo: “Shopping Aldeota, venha dar um pulinho aqui!”. Notem que o simples fato de o assunto haver virado um trending topic no Twitter parece  a ele haver agregado uma significação, uma importância e uma magnitude próprias. Uma espécie de "deu no New York Times". Isto só aponta para o quanto o mundo virtual interfere, de forma rascante, sobre "a vida real". Ou o quanto o Twitter é essa máquina de moer carne, semelhante àquelas que eram usadas até uns anos atrás, atarrachadas à mesa da cozinha, com uma manivela. O pio do Twitter, por trás de tantos gracejos e micro-diários, também masca um travo de morte. 

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Enquanto isso, um palhaço é eleito para o congresso nacional com a maior votação do país. Não admira. Em geral, quando se lê quase qualquer coisa na net, as pessoas desejam soar engraçadas e espirituosas. Quase sempre não são. Mas cada qual é o palhaço que merece. 

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Ontem, um filme e algumas cervejas depois, jogando conversa no mato, entre amigos, à certa altura, meio ao acaso, relembramos velhas canções, via Youtube. Destaque para dois temas, que foram unanimidade:

Esta visceral performance ao vivo de "Menino" (Milton Nascimento/ Ronaldo Bastos) pelo multinstrumentista argentino Pedro Aznar ("Quien calla sobre tu cuerpo/ es cómplice de tu muerte"):


e

"Long Distance Runaround”, faixa do disco Fragile, do Yes ("I still remember the dream there/ I still remember the time you said goodbye/ Did we really tell lies?"):


Aliás, não sou dos mais ardorosos fãs de rock-progressivo. Ou do próprio Yes. Porém ouvi bastante o Fragile – disco que figura briosamente entre os vinis que ainda restam na estante. O suficiente, de outro modo, para me lembrar da melodia exata de alguns dos habilíssimos licks do Rickenbacker - algo agudo e distorcido, soando quase sempre em contraponto, como uma viola da gamba - de Squire; dos teclados de Wakeman evocando Brahms ou Bach; das piruetas rítmicas de Bill Bruford; do falsete tiple de Jon Anderson. O suficiente para também destacar esta gema do guitarrista Steve Howe, não ouvida ontem e que faz o tempo escorrer entre os dedos com pitadas de flamenco e Idade Média. Ou pode ditar o ânimo de um dia:


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