domingo, 2 de dezembro de 2012

E outros mil e mais cem desses depois: Catullus




'Vivamus, mea Lesbia'

Vivamus, mea Lesbia, atque amemus,
rumoresque senum severiorum
omnes unius aestimemus assis!
Soles occidere et redire possunt;
nobis cum semel occidit brevis lux,
nox est perpetua una dormienda.
Da mi basia mille, deinde centum,
dein mille altera, dein secunda centum,
deinde usque altera mille, deinde centum.
Dein, cum milia multa fecerimus,
conturbabimus illa, ne sciamus,
aut ne quis malus invidere possit,
cum tantum sciat esse basiorum.

Catullus


'Vamos viver, minha Lésbia'

Vamos viver, minha Lésbia, e amar:
a arenga desses velhotes austeros,
cheios de pompa, não vale vintém,
e logo o sol se vai para depois voltar.
Quando nossa breve luz se for, porém,
haverá uma só noite, um sono só.
Então, me dá mil beijos, depois mais cem
e depois mais mil depois desses cem
e outros mil e mais cem desses depois.
E, assim, ao menos o sobejo desses beijos,
a gente possa juntar em cumulada soma
que baralhe as contas dos invejosos, atrás
o tempo todo de contar, sem tirar nem pôr,
quantos esses beijos foram, e foram de amor.




_______________________________
Como em certa perspectiva tomada de empréstimo ao Robert Lowell de Imitations, essa "tradução" toma o famoso poema de Catulo mais como motivo. Um nome criei para essa modalidade de transposição que extrai e deforma: "deformaciância". Porque arranca e deforma, sim, mas com maciez e alguma breve lógica. Uma breve ciência. Provavelmente Catulo poria minha cabeça a prêmio se lesse esta versão. E especialmente os dois últimos versos. 
Porém, pode ser que não. Pode ser que fosse a cabeça dos outros. De todos eles. E mais especificamente daqueles doutos que tudo sabem de latim.
E nada de poesia.

Nenhum comentário:

Postar um comentário