Às vezes,
no ruído das chaves, ouço teu chegar: não estás mais. Ninguém. Um ano vai inteirar. O ruído das chaves conjuram saltos batendo. São teus não. Rojões cortam a noite. E alguém deve
estar bêbado. Só hoje morreram a mulher mais alta do mundo, a mais
sexy do mundo, a menos moura, a mais torta, a mais velha. Também Oscar Niemeyer, que era um dos
arquitetos mais velhos. E Dave Brubeck, que disse tome
cinco, pondo dez dedos nas teclas. Como ponho os
meus nessas outras, num e-mail para a A. B. Veiga: lembra dela? Vocês estudaram juntas no Santa Cecília. Por que isso de comemorar o Ano Novo começa tão cedo: já no início
de dezembro? A cidade toda pisca. Parece mais próspera. Ou alegre. E, no entanto, há algo encardido. É. A economia talhou este ano. Mas
pelo menos não deu pra trás como na Europa. O Fluminense foi
campeão jogando uma bolinha de papel. E as crianças adoram as luzinhas no
rosto das casas, enroscando-se pelas varandas dos prédios.
Nada disso
vês. Nem a grande árvore, erguida na Praça Portugal. Mais uma. Para outro.
Faz um ano que estás debaixo do chão, a alguns quilômetros daqui. No escuro.
Faz um ano que estás debaixo do chão, a alguns quilômetros daqui. No escuro.
Os vermes a
devorar tuas carnes.
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