sábado, 22 de dezembro de 2012

Alguns Quilômetros




Às vezes, no ruído das chaves, ouço teu chegar: não estás mais. Ninguém. Um ano vai inteirar. O ruído das chaves conjuram saltos batendo. São teus não. Rojões cortam a noite. E alguém deve estar bêbado. Só hoje morreram a mulher mais alta do mundo, a mais sexy do mundo, a menos moura, a mais torta, a mais velha. Também Oscar Niemeyer, que era um dos arquitetos mais velhos. E Dave Brubeck, que disse tome cinco, pondo dez dedos nas teclas. Como ponho os meus nessas outras, num e-mail para a A. B. Veiga: lembra dela? Vocês estudaram juntas no Santa Cecília. Por que isso de comemorar o Ano Novo começa tão cedo: já no início de dezembro? A cidade toda pisca. Parece mais próspera. Ou alegre. E, no entanto, há algo encardido. É. A economia talhou este ano. Mas pelo menos não deu pra trás como na Europa. O Fluminense foi campeão jogando uma bolinha de papel. E as crianças adoram as luzinhas no rosto das casas, enroscando-se pelas varandas dos prédios.

Nada disso vês. Nem a grande árvore, erguida na Praça Portugal. Mais uma. Para outro.

Faz um ano que estás debaixo do chão, a alguns quilômetros daqui. No escuro.

Os vermes a devorar tuas carnes.

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