Joel e Ethan Coen, Barton Fink, 1991
Não
deve ser usada em vão. Para algo que nada proponha vazando fora de um
universo dobrado sobre si. Que nada vaze de suas convenções. De
suas convenções sedimentadas historicamente para outros modos de
sentir, conhecer, conversar. Por isso os filmes mais maçantes são
os excessivamente meta-confeccionados. O cinema, do contrário, está
ocupado com sons e imagens mais rentes às que encontramos no dia a
dia. E num dia a dia cada vez mais assolado por sons e imagens de
tempos formatos e definições diversos - mas que, no atacado, vendem
coisas (e, entre essas coisas, a ideia de que o cinema é um universo
fechado sobre si). Há uma grandeza que consiste no seguinte: em o espectador sentir-se parte do que segue na imagem, ainda quando cônscio das artificialidades e estratégias investidas na formulação dessa imagem. E é precisamente aqui que muitos jovens realizadores pisam na bola. Eles pensam que discutir história do cinema ou propor vagos gestos "políticos" (no filme) são suficientes para gerar grandeza. Não são. O espectador quer sua humanidade posta na tela. Um mínimo de empatia. Ele a busca, e não acha. E porque ela é muito mais complexa que a unilateralidade de uma tese. Enquanto isso o realizador passeia pelo quarto com o gravador de som na mão pensando que seu gesto é revolução. Ou discute a natureza da imagem, como se estivesse num simpósio de pós-graduação. O problema é que a vasta maioria da humanidade nunca sequer pisou numa faculdade. Muito menos numa faculdade de Comunicação. Ou de Cinema. E francamente há outras coisas com o que se ocupar, ante meras demonstrações de conhecimento de causa ou destreza. Afinal, nem todo mundo acha o máximo que filmes citem filmes o tempo todo.
O fato de esquivar-se de um meta-cinema, à sua
vez, não é álibi para atirar-se a um cinema ingênuo ou "espontâneo". Se o filme perderá ou não seu dispositivo padrão –
sala de exibição, DVD, etc. - isso é secundário diante da
abstração da ideia que rege o cinema em si, como forma de
expressão. E que é análoga à ideia do livro. Ou que vem lá? A rigor, não se sabe. Mas a literatura não
será extinta pelo aporte do digital. E até porque a ideia de livro é mais
resistente que as materialidades que o suportam. Assim também o
filme, enquanto ideia. [Transcende a sala, o vídeo-cassete, o
home-theater, a bidimensionalidade, etc. Se um dia vamos escrever por imagens não há o que lamentar nessa transformação. O fato é que ela não será para já. Embora a tendência.]
Aparentemente,
nenhuma postura mais estúpida hoje que a de reivindicar o realismo.
Ora,
reivindicar uma arte realista, nos diascorrentes, paradoxalmente, parece ser a
mais astuta e revolucionária das atitudes. Porque igualmente a mais paradoxal. Especialmente numa época
que confunde realismo com um naturalismozinho tacanho. Ou com uma
realidade que pode ser auscultada sob o prisma de outros olhares
a-humanos, maquínicos ou cientificistas. Como se ciência e arte fossem modos
idênticos de conhecer. Ou como se não fosse necessária uma enorme
carga de convenção e artificialismo – que um autor como Deleuze
chama (em acerto) de “as potências do falso” - para se chegar,
de fato, à esfera do realismo enquanto representação. E enquanto
representação ainda que de um mundo inteiramente fascinado pelo grau de
virtualidade a que se pode chegar.
Apesar de se estar só no limiar dessa chegada.
Cinema é limiar.
Cinema é limiar.
Se acertarmos na identificação e na fascinação o filme está salvo.Certa vez produzimos um filme experimental, cinema mudo moderno, em cores,sem muitos recursos, com os personagens esteriótipos de Marilyn Monroe e Salvador Dalí.Foi concebido para adultos mas fez o maior sucesso entre crianças de 7 a 10 anos.Acertamos no que não vimos!
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