quarta-feira, 10 de outubro de 2012

Observação Semi-Musical


Jean-Baptiste-Siméon Chardin


Há os frios como Vivaldi. Ou os quentes como Brahms. Bach está equidistante de ambos. Assim como dos maneirismos de Mozart. Se insistirem em polarizar, bebendo mais na fonte do italiano, de quem chegou a transcrever e arranjar alguns concertos. (Até porque os outros dois lhe são posteriores). Mas então, há uma arte que passa mais pelo intelecto, como em Vivaldi, que pratica uma música de belas séries matemáticas. E por isso interrompia missas para correr até a sacristia e anotar o trecho da música que vinha à cabeça em hora imprópria. E, todavia, em Bach, o enorme esforço e estudo, à época de frutificar¹, dá em coisas intuitivas e racionais. Simultaneamente. Pois até mesmo o racional bachiano está tingido de humanidade, do espírito da subjetividade, da ordem da adivinhação e do dia-a-dia, da generosidade, da inclusão, do abrigo e da emoção. E vice-versa. A música de Bach cava espaços para sermos e estarmos mais confortáveis e abrigados neste mundo. Mais em consórcio com ele. Sentindo-o e desdobrando-o melhor. Aceitando nossa finitude por via de um Senhor.

Em Bach o subjetivo objeta-se e o objetivo sujeita-se.

E sujeita-se, bem entendido, ao único Senhor a que se deve sujeitar. 

Amém. 

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¹Que como entre os mestres não se dissocia do exercício.

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