Pere Portabella, O Silêncio Antes de Bach, 2007
Em O Silêncio Antes de Bach (Die Stille Vor Bach), de Pere Portabella, há uma cena que diz muito para quem escuta como músico.
Não
é necessário ser músico para entendê-la.¹ Para escutá-la ao vê-la. E perceber que o
centro da cena vai pelo contraste entre os ruídos que se dão antes
e depois com o “ruído da música” e o deslizar do trem lá fora,
durante.
A
peça, no caso, é o Prelúdio da primeira das suítes para cello, a mais bela da
série.
E
é encantador como num único momento uma das cellistas, fugindo das
indicações de direção, não consegue conter o sorriso.
Provavelmente provocado pelo mungango de algum gaiato sentado,
diante dela, no fora de campo. (Ou porque um chaveiro caiu no piso do vagão ou alguém errou a arcada ou pôs os dedos onde não devia). Esse aparente deslize, no entanto,
ilumina a cena. E a humaniza de vez.
E
demarca a diferença do filme para "os filme".
Sim, porque, notem, o heroísmo desse "clipe" vai pelo contraste entre os jeans, os tênis, as sandália, as t-shirts fuleiras envergados pelos jovens músicos e a nobreza das formas curvas e o som, desesperadamente próximo do registro humano em lamento ou rogo, dos cellos.
Sim, porque, notem, o heroísmo desse "clipe" vai pelo contraste entre os jeans, os tênis, as sandália, as t-shirts fuleiras envergados pelos jovens músicos e a nobreza das formas curvas e o som, desesperadamente próximo do registro humano em lamento ou rogo, dos cellos.
Talvez
O Silêncio Antes de Bach não seja uma obra-prima. É irregular
demais. Nem todas as sequências possuem a mesma tensão, coesão e ousadia desta. E então: nem mesmo digno de contar numa antologia de filmes sobre ou
com a música de Bach? É possível. Mas alguns de seus momentos valem à pena.
Mesmo à alma mesquinha. Como esta gravação do prelúdio entre estações do metrô.
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¹É
antes preferível que haja musicalidade que propriamente técnica (ou exibição de destreza: mera técnica, falsa técnica) musical. Quantos não tocam peças de grande grau de
dificuldade, de velocidade e, no entanto, não são músicos. São
técnicos, tanto quanto o bancário, o agricultor, o balconista, o
professor. O melhor exercício para quem não é acostumado a ouvir coisas enquanto as vê é ouvir a banda sonora isoladamente. Depois ver o filme sem som. E, enfim, fazer a soma, que ninguém é de ferro ou à prova de fogo.
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