-Cadê
a chave de fenda?
-Eu
trago uma no bolso da calça.
-E
encontrou?
-Encontrei
não.
-Procura
direito.
*
Há
coisas que só se entende algum tempo depois.
Havia
a garota grega que às vezes soltava um xaveco. E ele fazia-se de
desentendido. A estação corria pródiga. Ambos moravam no campus, em alojamentos. O inverno fora
de congelador de Brastemp, e uma primavera mal ensaiava-se. Não raro
iam às mesmas festas de confraria.
Certa
tarde encontraram-se por acaso na papelaria da universidade, antes do
seminário. Ambos segundanistas na pós. Ele com sua paixão por stationery e algum alheamento. Ela, com o inseparável sobretudo negro, cabelos em coque e botas, contou que estava montando umas prateleiras em seu
alojamento:
-Você
tem uma chave de fenda, Carlos?
-Não.
Não tenho, não, Corina. Sinto.
E
a velha senhora inglesa desde o balcão, com aquele comedido histrionismo na entoação da frase:
-Ah,
mas um cavalheiro deve ter pelo menos duas coisas: um lenço no bolso
e uma chave de fenda em casa.
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