segunda-feira, 1 de outubro de 2012

A hora e a vez de João Sebastião (ou A arte da Fuga)



é tocante. Simplesmente acaba. De repente

o modo como se figura a morte de Bach num documentário da BBC. Você vê as notas escritas, ouve a música soando. O nome inscrito na pauta. E logo depois há apenas o pentagrama vazio

e silêncio

deve haver melhores modos de se figurar a morte. Mas este¹:
[se estiver com pressa, favor, vá a 2:29]




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¹É provável que se o momento se desse num desses filmes da vanguarda norte-americana, fosse saudado com flores críticas de perfumar os vãos do Centro de Eventos Ceará ou o Anhembi. Como algo do engenho estético de Kubelka ou Jonas Mekas. Mas como se encontra "escondida" em um documentário um tanto padrão, bem produzido mas nada vanguardista, meio fuleiro, middlebrow, para consumo de simples mortais, a cena, que é conduzida por uma instrumentista vestida com a extravagância étnica lançada nos 90 (ou algum sobejo punk tardio), passa um tanto batida...A sacada dessa instrumentista, no entanto, é que é o bicho. E revela todo o conhecimento de causa que ela porta, através de si, a respeito de Bach. Tudo isso também me lembra certa conversa com Alexandre Veras, ao tempo em que montávamos "Uma Encruzilhada Aprazível". Veras certa vez informou, com aquela sua ênfase particular, o quanto lhe impressionava que, num documentário sobre a II Guerra, os soldados simplesmente ficassem imóveis quando atingidos e mortos. Ao contrário das contorções e espasmos teatrais dos filmes de ficção. E a morte em imagem é mesmo essa imobilidade, nem que sob a forma do silêncio, quando transposta para os domínios do tempo. Há uma  frase de Bresson que, de tão simples, chega a ser tautológica. E, talvez por isso mesmo, vá de encontro à norma de representação mais instituída: "não se deve mostrar a morte, mas a sua consequência: a imobilidade". 

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