quarta-feira, 28 de março de 2012

Dos Novos Malls e a Partir

Pedestres chegando e saindo de um shopping em Vilnius, Lituânia

Em Amsterdã, o estacionamento de bicicletas do Piazza Shopping é subterrâneo

Na Europa, na China, shoppings que privilegiam pedestres e ciclistas, abertos ao exterior, em interação com a vizinhança, suplementados por moradias, com amplos e seguros estacionamentos para bicicletas, integrados aos corredores de transporte público - à base de metrôs, bondes, vlt's, monotrilhos, ônibus elétricos - lançando mão de energias limpas, renováveis, captando água de chuva, são a tendência. Espaços que se pode atravessar a pé, sentindo a brisa nas árvores ou o sol da manhã, como numa calçada de bairro. Que quando acabamos de perfazê-los, caímos de novo na cidade quase sem sentir. Que abrem-se permanentemente para a cidade, e estão longe de serem mônadas.


Por que insistimos no modelo de shoppings de estilo americano: segregados, ultrapassados, privilegiando o automóvel; ilhas fechadas sobre si mesmas, e cedendo, ao invés de parques e praças, estacionamentos, que são pontos cegos noite alta, madrugada e boa parte da manhã? No Chile, país que já tem um padrão de vida análogo ao europeu – lá já se pode por exemplo beber água da torneira, primeiro indício – esboçam-se soluções diferentes.

A ressalva é a de que mesmo na Europa, a proliferação desses novos shoppings é tendência recente. E ainda se constroem muitos malls de padrão americano. Mas seria estupendo que se começasse a construir centros de comércio desse tipo por aqui. E, o máximo possível, adaptados às circunstâncias locais, quando se tem tudo à volta e à vista: sol, vento, chuvas (na primeira parte do ano); nenhum problema com frio ou necessidade de calefação, etc. Relevo pouco acidentado, favorável ao ciclismo urbano. E logo necessitaríamos apenas criar mais sombra de árvores ao longo das vias para atenuar os excessos de sol e calor. Já para o interior dos edifícios, espanta, por exemplo, o fato de ainda não se ter desenvolvido um sistema de condicionamento de ar mais eficiente e natural, que dispenda menos energia.

De outro modo, tanta ênfase se pôs no carro e no caminhão que os penalizados são os que mereciam mais incentivos. De um lado, pedestres, ciclistas e motociclistas – justamente os que morrem como piolhos no tráfego de veículos das grandes cidades. De outro, praticamente não há transporte ferroviário e hidroviário para passageiros no país. Isso para não falar que o de cargas é irrisório.

No caso de Fortaleza, passa a medida de nossa inércia que ninguém haja ao menos estudado a viabilidade de ferryboats, catamarãs ou lanchas de transporte de passageiros modernas, seguras, de boa velocidade e conforto, que pudessem cobrir um percurso como Porto das Dunas/Centro com paradas no Mucuripe, Meireles, Praia de Iracema. No Oeste pode-se pensar em Icaraí/Centro ou mesmo, numa linha mais estendida Pecém/Centro. Não seria uma forma muito mais bela de fazer esse trajeto diariamente. E muito menos estressante? Não iria desafogar um bocado o trânsito, desde que houvesse ancoradouros em pontos estratégicos, como Eusébio, Sabiaguaba, Cumbuco e Barra do Ceará, por exemplo? Mas isso não é sequer cogitado. Assim como ciclovias de verdade e uma ampla implantação do vlt – mesmo que já se tenha uma indústria que os fabrica, no sul do estado. E o vlt é solução muito mais barata e requer menos preparo de implantação, menos intervenções urbanas, que o metrô. É necessário apenas estudar bem onde e como implantá-lo. Ainda assim, seguimos marcando passo com automóveis numa ponta e ônibus lotados e ineficientes na outra. E, como sempre, apenas copiando. Copiando. Copiando desesperadamente, no piloto automático e nem sempre as melhores soluções. Sem qualquer possibilidade de inventar nossas próprias soluções. 
Porque fomos educados para isso. 

2 comentários:

  1. Brilliant!! E por que não falar da geografia estética e da moça?

    Adriana

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  2. gostei da provocação. tem resposta amanhã, dra.!

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