quinta-feira, 10 de dezembro de 2009

Nem mesmo a chuva: cummings


Lyonel Feininger, Rain, 1952



'somewhere i have never traveled'


somewhere i have never traveled, gladly beyond

any experience, your eyes have their silence:

in your most frail gesture are things which enclose me,

or which i cannot touch because they are too near


your slightest look easily will unclose me

though i have closed myself as fingers,

you open always petal by petal myself as Spring opens

(touching skilfully, mysteriously) her first rose


or if your wish be to close me, i and

my life will shut very beautifully, suddenly,

as when the heart of this flower imagines

the snow carefully everywhere descending;


nothing which we are to perceive in this world equals

the power of your intense fragility: whose texture

compels me with the colour of its countries,

rendering death and forever with each breathing


(i do not know what it is about you that closes

and opens;only something in me understands

the voice of your eyes is deeper than all roses)

nobody, not even the rain, has such small hands


e.e.cummings




'num espaço onde nunca estive'


num espaço onde nunca estive, vivamente além

de qualquer experiência, teus olhos retêm silêncio:

em teu mais frágil gesto há coisas que me cercam,

ou que não posso tocar de tão rentes


teu mais leve olhar logo irá romper-me

mesmo que eu me tenha fechado feito dedos,

sempre me abres pétala a pétala, como a primavera

abre (tocando destra, misteriosamente) a primeira rosa


ou se teu desejo é fechar-me, eu e

minha vida vedaremos muito bela, bruscamente,

como quando o coração dessa flor pressente

a neve descendo, cautelosa, por toda parte


nada que se possa revelar neste mundo vale

a força de tua intensa fragilidade: cuja textura

compele-me com a cor de seus campos,

vertendo morte e para sempre a cada sopro


(como nada, coisa alguma sei de ti quando dosas

fechar e abrir; apenas algo em mim engrena

a voz de teu olhar é mais profunda que todas as rosas)

ninguém, nem mesmo a chuva, tem mãos tão pequenas


* * *


Um comentário:

  1. Que bom ver que voltou. Passei por aqui dias e dias e só havia o tal Carlos. Desisti. Mas não por muito tempo, vê-se.
    Coisas lindas por aqui. Sempre.

    Beijo.

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