sábado, 23 de outubro de 2010

Não um termo vago, uma arbitrariedade sociológica: Le Clézio

[s/i/c]




'Je ne suis pas seul'

Je ne suis pas seul. Je sais un millier de fois que je ne suis pas seule. Je n'existe, physiquement, intellectuellement, moralement parlant, que parce que de millions d'êtres existent et ont existé autour de moi, pour ne pas parler de ceux qui viendront. Cela n'est pas une idée: c'est un morceaux de réalité, un simple morceaux de réalité. A eux je dois tout, absolument tout: mon nom, mon adresse, mon nez, ma peau, la couleur de mes cheveux, ma vie et mes pensée le plus secrètes, me rêves, et même le lieu et l'heure de ma mort. Les hommes, à ma naissance, m'ont servi de destinée. Ce sont eux, – et ce “eux” n'est pas un mot vague, un arbitraire sociologique destiné à camoufler le néant ou le hasard – ce sont eux que m'ont fait; précis, palpables, audibles, présents, ou présent dans leurs absence, ils son en mois; ils on des faces, des paroles, de actes, des écris; je le connais sans le connaître, car connaît-on la foule? Au moins puis-je assurer que j'en connais intimement trois ou quatre, intuitivement une vingtaine. Les autres, je ne les ai peut-être vus, et ma vie ne suffirait pas à les énumérer, mais j'ai la certitude – encore une évidence – qu'ils sont.
Voilà. Ce son eux qui m'ont crée. Je leur dois tout.


J.M.G. Le Clézio [L'extase matérielle (O Êxtase Material), © Éditions Gallimard]



'Eu não estou só'

Eu não estou só. Eu digo um milhar de vezes que não estou só. Eu não existo, fisicamente intelectualmente, moralmente falando, senão pelos milhões de seres vivos e dentre os que existem a meu redor, para não falar dos que ainda virão. Não se trata de uma ideia: é um pedaço de realidade, um simples pedaço de realidade. A eles devo tudo, absolutamente tudo: meu nome, meu endereço, meu nariz, minha pele, a cor de meus cabelos, minha vida e meus pensamentos mais secretos, meus sonhos e mesmo o lugar e a hora de minha morte. Os homens quando de meu nascimento, me serviram de destino. São eles, – e esse “eles” não é um termo vago, uma arbitrariedade sociológica destinada a camuflar o nada ou o acaso – são eles que me fazem; precisos, palpáveis, audíveis, presentes; ou presentes em sua ausência, eles estão em mim; eles têm os rostos, as palavras, os atos, os escritos; os conheço sem os conhecer; acaso conhecemos a multidão? Ao menos posso assegurar que conheço intimamente três ou quatro, intuitivamente uma vintena. Os outros, talvez jamais os tenha visto, e minha vida não será suficiente para enumerá-los, mas tenho a certeza – uma evidência mesmo – que eles são.
Assim. Foram eles que me criaram. Lhes devo tudo.



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