[s/i/c]
A Democracia do Voto Obrigatório
Uma das maiores aberrações em uma democracia é a obrigatoriedade do voto. O contrasenso é evidente: se é democracia, deveria facultar àqueles que não querem votar este direito. E falam em dever de cidadão. Dever de cidadão é optar entre ir pescar, filosofar no botequim, assistir o Faustão, ir ao estádio ou - se de fato quiser - seguir até uma seção eleitoral. E votar.
Soa mais razoável.
Parece, aliás, com a aquela célebre passagem da Ideologia Alemã em que o pensamento de Marx mais deliciosamente se aproxima do anarquismo e da utopia, quando ele nos fala de uma sociedade em que o indivíduo "pode aperfeiçoar-se na esfera que lhe aprouver, não tendo por isso um ciclo de actividade exclusiva, pois é a sociedade que regula a produção geral e me permite fazer hoje uma coisa, amanhã outra, caçar de manhã, pescar à tarde, pastorear à noite, fazer crítica depois do jantar, e tudo isto a meu bel-prazer, sem por isso me tornar exclusivamente caçador, pescador ou crítico".
Parece, aliás, com a aquela célebre passagem da Ideologia Alemã em que o pensamento de Marx mais deliciosamente se aproxima do anarquismo e da utopia, quando ele nos fala de uma sociedade em que o indivíduo "pode aperfeiçoar-se na esfera que lhe aprouver, não tendo por isso um ciclo de actividade exclusiva, pois é a sociedade que regula a produção geral e me permite fazer hoje uma coisa, amanhã outra, caçar de manhã, pescar à tarde, pastorear à noite, fazer crítica depois do jantar, e tudo isto a meu bel-prazer, sem por isso me tornar exclusivamente caçador, pescador ou crítico".
É claro que essa compulsoriedade do voto - aliás muito pouco contestada, seja por qual matiz ou partido político, ou pela grande imprensa - embute uma série de práticas nefastas herdadas do passado. Se todos são obrigados a votar, é mais fácil manipular - seja por compra, seja por qualquer tipo de favor ilícito - o voto daquele que se encontra mais vulnerável ou em situação precária ou em débito de um "favor" qualquer.
Evidente que, se do contrário, o voto fosse facultativo, o custo da "compra" seria, digamos, mais caro. Porém como essa obrigatoriedade do voto parece ir bem com Rorizes, esposas de Rorizes e congêneres!
Outra incongruência: analfabetos são obrigados a votar. Mas, do contrário, são inelegíveis. Ora, se eles podem escolher seus candidatos, se se julga que podem discernir quais dentre eles conformam o melhor para a coletividade: por que lhes é vedado ser um deles?
Lula só fez até a quarta série do primeiro grau. E isto não o impediu de ser o habilíssimo animal político que é - referende-se ou não a gestão de um presidente que está a alguns poucos meses de deixar o mandato com mais de 80% de aprovação popular. Uma verdadeira aclamação, quando se sabe dos desgastes sofridos pelos executivos; em especial, nos segundos mandatos. E, para os padrões pós-doutores dos diascorrentes, convenhamos, Lula é quase um analfabeto funcional.
Tudo isso de votos compulsórios e a celeuma em torno de analfabetos chega a arrancar risos em diversos pontos do planeta. Como, aliás, NESTA saborosa crônica de Ivan Lessa.
Viver numa democracia em que se é obrigado a votar é como namorar uma bela mulher e ser obrigado a casar com ela todo dia, em algum momento, entre às 8hs e às 17hs – pela pressão da família, do juiz, do coronel, do dirigente da ONG, do bicheiro, do traficante de drogas, do laudo médico, do vigário, do
do it yourself. And far better, without Nike.
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