segunda-feira, 11 de outubro de 2010

And she aches just like a woman/ But she breaks just like a little girl

Cindy van den Bremen, Sports Headgear for Muslim Women, 1999



apenas uma mulher


o que é ser apenas como uma mulher? como é possível ser apenas como uma mulher? de que jeito se caminha na rua sendo apenas como uma mulher? e se todas as frases do mundo tivessem por sujeito «apenas como uma mulher»? por que apenas uma mulher pode beijar de um jeito que apenas uma mulher beija? pode gemer de um jeito que apenas uma mulher geme? ou despir-se do modo como apenas uma mulher revela a paisagem? e, por isso, chega a ser sacrílego que um homem queira a outro homem jactar-se da paisagem nua que é apenas uma mulher -- como candaules a giges? por que apenas uma mulher pode reparar na roupa e no estilo do corte dos cabelos da outra apenas uma mulher apenas de um determinado jeito, mesmo mudo, sem qualquer afetação? pode acender os sóis das galáxias todas ao mesmo tempo. e apenas sem mover um dedo. pode apenas fazer tantas coisas ao mesmo tempo, apenas sentada num balcão de um café e era maio. ou num assento de metrô entre as estações clínicas e paraíso durante, durante, ao fim da noite. ou numa ponte sobre um remoto rio - com nome de coisa gasta, puída - nos cafundós de county durham durante o inverno? como é ser apenas uma mulher e parir apenas toda a humanidade? como é apenas esconder-se quando o Todo-Poderoso passeia no Éden, depois de se haver conversado com a serpente e comido do fruto? e quando se é tomada como assunto, equivocamente, em livros como misoginia medieval, o que é apenas ser uma mulher? como é soltar os cabelos só para o marido e o amante quando se era apenas uma mulher? e, mensalmente, como o fluxo de sangue vertendo-se vulva afora como maré de lua sendo-se apenas uma mulher? e, como sendo apenas uma mulher - e tão belamente - não se diminui, murcha ou eclipsa sob um véu? mas que eu andei debaixo da chuva e meio fodido, comendo pouco e contando trocados, apenas não deixe que eles saibam, quando você, por acaso, me apresentar como um amigo.



«Just Like a Woman», Dylan, performed by Jeff Buckley:

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