segunda-feira, 8 de setembro de 2008

Cônjuges, terroristas, prêmios


Charles Eames, 1944


Três Notas Sobre Temas Correntes

A recente eleição de Asif Ali Zardari, viúvo de Benazir Bhutto, no Paquistão. Aponta para o quanto as pessoas tendem a ver o cônjuge como a alma gêmea. Alguém que garante uma espécie de continuidade da personalidade do outro. De nenhum modo isso corresponde à realidade. É uma perspectiva um tanto argentina de ver as coisas. E, no caso – como não em outras esferas da vida argentina – cercada de uma espécie de psicanalismo kitsch -- ainda que a expressão possa soar redundante. Não satisfeitos de mitificar uma (Eva) e eleger a outra (Isabela) das mulheres de Perón, recentemente estenderam essa prerrogativa à Cristina Elisabet, mulher de Kirchner. Nos Estados Unidos, no entanto, a mulher de Clinton saiu derrotada nas passadas prévias.

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E mais uma biografia de Che Guevara. É estranho conceber que se possa admirar Che Guevara. Ele trucidou muita gente em nome de uma causa, ternuras à parte. É a mesma coisa de se admirar um terrorista qualquer. Um terrorista de direita ou de esquerda. A serviço de uma causa política ou de consciência. Mas, no fim, um terrorista. Alguém que acha que o mundo será melhor matando outras pessoas em nome do bem-comum ou de uma causa étnica: eslava, árabe, armênia, judaica, etc. O assassino do Arquiduque Francisco Ferdinando, por exemplo. Ou Bin-Laden. Quem pode negar as execuções sumárias logo após a vitória dos guerrilheiros em Cuba? Bem, aqui se poderia interpor: mas havia sua indignação contra o estado de coisas social. Porém não houve quem, como Dom Hélder Câmara, agiu melhor diante disso?


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A avalanche de prêmios às personalidades. Em outubro, Ingrid Betancourt receberá o Women's World Award. O que esse ser humano fez de melhor para a humanidade, além de haver sido vítima de alguns lunáticos na selva colombiana? Pode-se ser solidário com seu drama tanto quanto com o drama das dezenas de outros reféns anônimos. Mas uma pessoa minimamente decente não se prestaria a ser arroz de festa em eventos com a participação de políticos tão ridículos como Sarkozy. Porém tudo fica mais ou menos esclarecido quando se sabe que Whitney Houston, Cher e Bianca Jagger estiveram, em edições anteriores, entre as distinguidas com o galardão de Mulher do Ano pela organização internacional que o concede, cuja base é em Viena. Alguns meses atrás, quem escreveu texto muito bem humorado sobre todo esse frisson em torno de La Betancourt foi Ivan Lessa. Sua crônica pode ser lida aqui:
http://www.bbc.co.uk/portuguese/reporterbbc/story/2008/07/080718_ivanlessa_tp.shtml

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