segunda-feira, 2 de novembro de 2009

Algures a um canto, num sítio desalinhado: Auden

Pieter Brueghel, o Velho, Paisagem com a queda de Ícaro, c.1558



Musée des Beaux Arts


About suffering they were never wrong,

The Old Masters: how well, they understood

Its human position; how it takes place

While someone else is eating or opening a window or just walking dully along;

How, when the aged are reverently, passionately waiting

For the miraculous birth, there always must be

Children who did not specially want it to happen, skating

On a pond at the edge of the wood:

They never forgot

That even the dreadful martyrdom must run its course

Anyhow in a corner, some untidy spot

Where the dogs go on with their doggy life and the torturer's horse

Scratches its innocent behind on a tree.


In Brueghel's Icarus, for instance: how everything turns away

Quite leisurely from the disaster; the ploughman may

Have heard the splash, the forsaken cry,

But for him it was not an important failure; the sun shone

As it had to on the white legs disappearing into the green

Water; and the expensive delicate ship that must have seen

Something amazing, a boy falling out of the sky,

had somewhere to get to and sailed calmly on.


W.H. Auden



Musée des Beaux Arts


Sobre sofrimento nunca se equivocavam,

Os Velhos Mestres: como entendiam bem

O ponto-de-vista humano, de como ele ocorria

Enquanto alguém comia ou abria uma janela ou tão-só caminhava monotonamente;

O modo como os idosos seguiam reverentes, em ardente aguardo,

Pelo nascimento miraculoso, devia haver sempre

Crianças que não o desejavam tanto, patinando

Num charco à orla da floresta:

Eles nunca esqueciam

Que mesmo o mais medonho martírio tinha de seguir seu curso

Algures a um canto, num sítio desalinhado

Onde os cães prosseguem com sua canina vida e o cavalo do torturador

Esfola o inocente atrás de uma árvore.


No Ícaro de Brueghel, por exemplo: de como quase tudo dá as costas

Um tanto placidamente ao desastre; o lavrador

Pode ter ouvido o espasmo, o clamor desamparado,

Mas para ele nada havia de muito erro; o sol brilhava

Como sobre as pernas brancas a desaparecer no verde

mar; e o caro e sofisticado navio que deve ter visto

Algo fantástico, um moço caindo do céu,

Tinha um destino a encontrar e navegava suavemente.



* * *


2 comentários:

  1. esse poema de auden é bem mais interessante do que o de williams carlos williams, vc nao acha?

    ResponderExcluir
  2. não. não acho. acho q cada um tem a sua própria e diversa beleza.

    ResponderExcluir