era
domingo àquela hora em que o sol escalda mais forte, e ∑llysson Nobody voltava do supermercado com as compras. ∑llysson seguia, volta e meia, trocando os sacos de uma para outra mão no intento de acomodar melhor o peso. ia catando com os olhos as
ilhazinhas de sombra. sonhava chegar em casa a tempo de ver o começo do primeiro tempo.
e com os lábios rogava pragas a quem inventou a matéria plástica, o sol, o fuso horário e a tv por assinatura:
-ei,
moço, sabe onde fica a antônio augusto? - disse o sujeito grisalho
da janela do carro, articulando pés de galinha e abrindo um pouco de
olhos entre bolsas de gordura.
∑llysson
depôs as compras na calçada, coçou a cabeça. A expressão
incrédula oscilava entre a infinita doçura e um “é
cilada, bino”:
-1242
da antônio augusto, moço. sab'onde é? - reincidiu o sujeito de
vastas olheiras sem por favores ou obséquios, como de praxe em Fortaleza.
∑llysson
pegou um pouco de ar ainda sem crer que acontecera com ele. o suor
descendo pelas frontes, pelos lóbulos cheios de pelos, pelo pescoço tatuado:
-em
primeiro lugar, ancião, moço eu não sou, como dá pra ver. em
segundo, autarquia, você deve estar me achando com cara de gps.
terceiramente, que nome de rua mais ridículo é esse, minha joia:
antônio augusto? esse miserável não tem sobrenome, não?
o sujeito engatou logo foi uma segunda. e se foi na cantoria dos pneus joão cordeiro abaixo.
o sujeito engatou logo foi uma segunda. e se foi na cantoria dos pneus joão cordeiro abaixo.
-obrigado,
viu! – ainda ouviu, lá muito atrás, no engatar da terceira, o
grito de ∑lisson a reenganchar a alça dos sacos nos dedos das mãos com a
sacrossanta expressão de um resignado monge budista que acabara de
declinar um mantra essencial para o bem-estar da humanidade.
Nenhum comentário:
Postar um comentário