Felix Hess
Dejarlas Partir
Ouvia
vozes. A moeda e a vida de João. Chico Buarque, os óculos, a
estátua de sal. O suicida e seu gato irreal. O que foi feito, o que
é feito, o que não mais será.
Noite.
Verão. Um sótão. Quarto de Solteira.
Aquela
foto recorrente. E viver extasiada pela autonomia do detalhe.
Separada dos outros por estranheza, pudor. Fisgada por e para dentro.
Ilhada na toca de si. Pulverizada em arquipélagos de um mar
interior. Chupada. Assungada. Aspirada como um filete de massa untado
no pesto, roçando lábios no breve itinerário. Pela incapacidade de
funcionar em grupo. Mais de um. Borbulha. Confusão. E ter de nomear
um a um os amigos que se foram, no morgue. E ter de tomar aquelas
cápsulas estranhas, que a deixavam meio grogue. E ter de tomar
decisões irrelevantes a caminho de Roma, quando não se tem mais
boca. E quando se tem de tomar decisões irrelevantes sob a ameaça
de olhares réprobos a caminho de Roma. E ter de ver rompida de novo
a membrana. E roída a roupa. A dela ficara para trás, oscilando,
pendurada em algum painel de cortiça e passagem. E vão-se vinte
anos. O ornamento, a pressa. Os vidrilhos estilhaçados. O relento e
a curva. A chuva escassa. Os andares percorridos sem vagar. O ruído
dos pneus numa derrapagem sem fim. E a noite embreando marchas só
para arrebentar-se de vez ladeira abaixo.
Nenhuma
vergonha. Nenhuma prece.
(Foi?
Lembro dela, gentil, esguia, escorada ao balcão, conversando com C.
E tudo em volta espargia indescritível luz. Uma luz de beleza e
poucos anos. Pareciam entretidos. E, algo, unidos por um vínculo
impreciso. Não viam muita coisa ao redor. Ou compartiam de nosso
tédio-ambiente. Uma estranha membrana os recobria de gentileza e
silêncio. Na conversa deles daria para ouvir dedo passando na borda
da taça. Isso? Foi aí por 1990. Naquele tempo de possibilidades.)
Fiz
apenas para quebrar. E se pudesse explicar. Se eu pudesse. Fiz só
para quebrar. Apenas para quebrar. Só para quebrar-me.
A
mim.
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Ouça,
se o caso for: http://bit.ly/9GoBVJ
Há
quem duvide que o castelhano é belo enquanto pura sonoridade. Pense
sobre isso escutando essa canção. Pode-se suspeitar da extrema
superficialidade e aleatoriedade das letras de certas canções. Ou o
quanto elas foram escritas às pressas em estúdios, foras de hora,
estados alterados. E essas letras devem mesmo portar esses selos. Mas
isso não as torna menos belas.
Lindo. Por um nadinha pensei conhecer a suicida e seu gato irreal. Mas você pôs no masculino outra vez: o suicida.
ResponderExcluirrs, não, nanda. ela não existe.
ResponderExcluirmas quem existe?