Malgorzata Buczek
-ou
Devaneios Eróticos na Era do Virtual
vá pensando. o virtual como luva nas mãos daqueles que fantasiam.
porque ela ou ele ouviu tal música, assinalou a leitura de tal livro, viu tal filme.
ou seja, por causa dessa cláusula secreta, que mesmo os dois que presumidamente a compartem nunca a declararam, love is in the air.
(is it really?)
*
é como não olhar para além do espelho diante do qual se faz caras e bocas aos dezessete. e há ainda os que vão adiante, e não cabendo em si ao descobrir que ela ouviu “r.i.p” com rita ora ou anda lendo d. h. lawrence, postam textinhos para informe do mundo: olha, gente, estão apaixonados! não é original? e são certamente correspondidos. nem que seja só no fundo de suas cacholas. ou no fundo sem fundo dos devaneios erotômanos.
lambisgoias e lambisgoios gastam tempo e energias nisso. sirigaitas e sirigaitos fazem a glória da indústria de cosméticos e da indústria esotérica e das fábricas de reflexos e dos centros de fisicultura. para não falar dos terapeutas e nutricionistas. reais e virtuais. abra uma janela chamada espelho. e a chame de 'mon amour'. não importa o navegador. Espelho era uma das poucas janelas virtuais que você podia chamar de sua antes da chegada do digital e seus brinquedinhos amorosos
porque ela ou ele ouviu tal música, assinalou a leitura de tal livro, viu tal filme.
ou seja, por causa dessa cláusula secreta, que mesmo os dois que presumidamente a compartem nunca a declararam, love is in the air.
(is it really?)
*
é como não olhar para além do espelho diante do qual se faz caras e bocas aos dezessete. e há ainda os que vão adiante, e não cabendo em si ao descobrir que ela ouviu “r.i.p” com rita ora ou anda lendo d. h. lawrence, postam textinhos para informe do mundo: olha, gente, estão apaixonados! não é original? e são certamente correspondidos. nem que seja só no fundo de suas cacholas. ou no fundo sem fundo dos devaneios erotômanos.
lambisgoias e lambisgoios gastam tempo e energias nisso. sirigaitas e sirigaitos fazem a glória da indústria de cosméticos e da indústria esotérica e das fábricas de reflexos e dos centros de fisicultura. para não falar dos terapeutas e nutricionistas. reais e virtuais. abra uma janela chamada espelho. e a chame de 'mon amour'. não importa o navegador. Espelho era uma das poucas janelas virtuais que você podia chamar de sua antes da chegada do digital e seus brinquedinhos amorosos
muitos
amores imagináveis depois (e, claro, muita punheta e siririca
escorrendo, digamos, um tanto pelo ladrão - pois está na regra, arnaldo), os caras imaginam até o piercing no umbigo, o tema musical, a
decoração da capela, o garbo dos padrinhos, o gosto dos salgadinhos e aquela respiração
entrecortada, no suposto futuro cônjuge (ou amante de 'ersatz').
então, no estalar dos dedos enchem blogs e mais blogs de flores, versinhos & presumidas bondades, como se tivessem dezessete ou o mundo fosse nutrir-se dessa extrabundância de salgadinhos imaginários e virtudes não menos. esquecem que esses salgadinhos não se exportam à china. que essa generosidade virtual não muda a vida de ninguém em calcutá. e será que existe alguém, em si e de fato, com uma vida interessante o bastante para ser acompanhada em tempo real? todomundo é suficientemente artista para ser seu próprio personagem e ter seus dias publicados assim nas revistas como personalidades em roupas de baixo?
motivos e valores positivos, adiante de seu tempo. e todos maneiros, heróis de si. nas suas próprias postagens ao menos. e,
assim, derramar-se em posts e mais posts ao modo de diário. ah, querido diário. mesmo que não tenham mais como volver a los diciesete. como se ao
menos na escrita o sensabor dos dias pudesse ser convertido em algo
menos acachapante. caramelizado para algo menos doentio. como se valesse tudo y más alguna cosa. en la virtualidad, muy bien, se puede carajo. a por la virtualidad.
alguns,
feito certa atriz – tinha que ser atriz ou ator, faz parte - tentam tirar
uma lasquinha, otários que não são e acabam por ser mais. pois a emenda termina pior que o soneto. o soneto, no caso, supostamente surrupiado. quem terá a pachorra de parar e olhar as fotos de uma sirigaita nua, quando há bilhões de
sirigaitas nuas, mais ou menos jovens e muito mais curvilíneas,
insinuantes, estimulantes e, melhor, até interativas ao redor do planeta? e essa moda não foi antes lançada por scarlett johansson - que convenhamos até possui, digamos assim, mais argumentos - antes de chegar nestes trópicos quase sempre por demais tristes e reincidentes? e agora, para fechar o ciclo da mimese vertiginosa só falta uma personalidade "local", "da terra" ter suas fotos íntimas afanadas... e aí o ciclo fecha seu logro: de nova york para o rio, do rio para fortaleza. é sair de johansson para a atriz carioca, e desta para quem? para uma das tigresas de joão inácio jr.?
tá
certo, ninguém vive sem migalhas de fantasia. o diacho é quando não
se consegue mais nadar de volta, na ressaca braba de fevereiro, e tomar pé da
realidade. maré para casco nenhum botar defeito: o braço dos
nadadores fraquejando o crawl. e
não mais se obtém viver com uma migalha de realidade. ainda que virtual.
será que ontem ela ouviu sixpence none the richer?
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