/sic/
Tive
as quatro rodas do carrinho. Não lembro delas. Vagas réstias de
sol, copas de fícus, os arcos da estação. Tudo um pouco borrado e
visto de um ângulo estranho. Generosos decotes. Sobrevieram as três rodas de um velocípede que parece só ter existido em velhas fotos num álbum de folhas grossas. Depois vieram as que lembro melhor:
duas rodas de bicicleta, e descer, sem mãos, a ladeira da Dr. João
Thomé no rumo do cais. Passei, então trinta anos rebocando
toneladas de lata velha, engrenagem e estofados sobre quatro rodas. E
o tanto que se dirigiu bêbado, ouviu música e namorou trêbado nesse ínterim. Melhor esquecer, junto com as amnésias alcoólicas. Difícil divisar o real. E ela me olhou com o mesmo ódio que os taxistas devotam aos que seguem em duas rodas ou dois pés, debaixo do sol e ao sopro do Terral. Mas o que de bêbado tem dono?
De
momento, voltei às duas. E ainda posso, da cadeira, puxar a saia da enfermeira.
maravilha. eu espero voltar para as duas também. mas não depois de aleijada. para uma bicicleta mesmo. no tempo em que bicicleta e atropelamento não estiver mais em moda.
ResponderExcluirfair
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