Ray Rum
Entre botar um rabo no burro com elefantíase e a andorinha que não faz verão
NOTA: este texto foi escrito antes da goleada do Santos (8x0 contra o Bolívar, na última quinta). Precisamente logo após a vitória do Santos sobre o Guarani (3x0), na primeira perna da final do Campeonato Paulista, domingo passado.
i.
Neymar
sai cercado pelo mar de microfones dizendo as obviedades de sempre.
Alguém tenta roubar-lhe a camisa. Então, diante disso, Neymar
diz algo que não parece muito ensaiado. Nem muito polido. E desvaira um pouco. Ninguém vai roubar-lhe a cena. E, daí,
lembram de entrevistar Medina, do Guarani. Ninguém dá muita bola
para Medina. E ele parece resignado ante o 3x0. O diretor de TV xinga
a mãe do miserável que teve a ideia de entrevistar Medina. Ganso
está livre:
-Pega
o Ganso. Passa pro Paulo Henrique, porra!
E,
logo Ganso é indagado por...Neymar. E diz o que lhe vem de treino:
que Neymar dentro do campo é isso e aquilo, e é craque; e fora dele
é craque também, porque é um garoto muito família, etc. Neymar, que semana passada disse
que jogador de futebol nem sempre vai pra orgia, já desaparecera túnel abaixo.
Se Neymar é família? Claro. Neymar, aliás, pode comprar as famílias que bem
entender. E assentá-las onde bem quiser, e sem Sem-Terras por perto, de preferência. E pode mandar importar uma babá tailandesa com um bigode à lusitana, para passear de helicóptero com seu filho no colo, quando o menino precisar arrotar.
E
botar um rabo no burro com elefantíase de estimação.
ii.
Falando de teatro dos sonhos, um ardoroso fã, cujo clube não foi nada bem em uma primeira perna de final, largou numa dessas fatais caixas de comentário: "o futebol, talvez mais do que qualquer outro esporte, é a arena em que os 'milagres' acontecem". Pode até ser, mas a frase ficaria mais rente à realidade - em especial quando se lembra dos narradores de rádio - assim: "o futebol, talvez mais do que qualquer outro esporte, é a arenga em que os 'milagres' acontecem".
iii.
A puerilidade das comemorações com dancinhas orquestradas é desproporcional aos salários dos jogadores, ao destaque dado a elas e à paciência de quem conhece futebol. Isso estende-se à fertilidade com que factóides - desde gandulas estrelas aos cortes de cabelo dos jogadores, passando pela idiotia fatal das coreografias de comemoração e o interminável telemelodrama da Taça das Bolinhas - ganham espaço nas manchetes. À medida em que nos afastamos do futebol enquanto essência, tal como jogado entre as quatro linhas em verticalidade agressiva e atacante, mais a mediocridade ameaça ganhar de goleada. Alguns clubes vivem de ex-atletas com lampejos, como Fred. O fato de Fred fazer tanto sucesso no Fluminense depõe contra o Fluminense e contra futebol brasileiro. E dizer que o Santos - espreguiçando-se em campo - jogou bem, domingo último contra o Guarani, é um atentado ao futebol. Mas temos vivido desses terrorismos constrangedores. E toda uma ética, uma forma de jogar futebol aparentemente foi suprimida. Isso vem de longe, e passa também pela câmera ressaltar tanto a figura do técnico e seus esgares, à beira do campo.
E esquecer o jogo.
iv.
Hoje, na América do Sul, La U de Chile, na esfera dos clubes, e o Uruguay, no nível das seleções, representam mais do que fomos no passado do que qualquer time brasileiro, incluída a duplamente confusa Seleção. Duplamente: 1. por não ter ideia de sua vocação; e 2. por não ter evoluído bulhufas na era do "cordato" Mano Menezes. O técnico gaúcho sabe como agradar jornalistas. É polido, e fez curso de marketing comunicacional. Porém como organizador de uma seleção, de um time em campo, está corpos atrás de Carlos Bledorn, vulgo Dunga. O capitão do tetra, a despeito de seu contestável estilo postado em contrataques - e não menos nas entrevistas - ao menos sabia organizar e dar um padrão de jogo a uma equipe. Sabia o que queria. Além de atentar para um facto: a Seleção Brasileira, mesmo em fase de transição, tem um padrão de estatísticas a zelar. E pode-se discordar da filosofia de Dunga. Mas, por outro lado, reconhecer que sua época foi a de entrar nas competições para ganhar.
O que é filosofia que se vem atrofiando quando se pensa em futebol e Brasil.
v.
Que a figura de Neymar concentre tanto é o de esperar. Vai bem com nossa mentalidade. Que o garoto é tocado pela genialidade, não se discute. O que deve-se discutir é a andorinha, o verão. O tanto que Neymar não resolve sozinho parada alguma. E é necessário, então, um time em torno dele. E, assim, a solução passa por outros nomes: Oscar, Leandro Damião, Lucas, Arouca, o eclipsado e ainda sob suspeita Ganso, e quem mais surgir. Um time e uma geração que, de resto (e para quanto durar a direção de Menezes como selecionador, se tem a impressão) ainda não mostraram a cara, a coroa.
E a que vieram.
ii.
Falando de teatro dos sonhos, um ardoroso fã, cujo clube não foi nada bem em uma primeira perna de final, largou numa dessas fatais caixas de comentário: "o futebol, talvez mais do que qualquer outro esporte, é a arena em que os 'milagres' acontecem". Pode até ser, mas a frase ficaria mais rente à realidade - em especial quando se lembra dos narradores de rádio - assim: "o futebol, talvez mais do que qualquer outro esporte, é a arenga em que os 'milagres' acontecem".
iii.
A puerilidade das comemorações com dancinhas orquestradas é desproporcional aos salários dos jogadores, ao destaque dado a elas e à paciência de quem conhece futebol. Isso estende-se à fertilidade com que factóides - desde gandulas estrelas aos cortes de cabelo dos jogadores, passando pela idiotia fatal das coreografias de comemoração e o interminável telemelodrama da Taça das Bolinhas - ganham espaço nas manchetes. À medida em que nos afastamos do futebol enquanto essência, tal como jogado entre as quatro linhas em verticalidade agressiva e atacante, mais a mediocridade ameaça ganhar de goleada. Alguns clubes vivem de ex-atletas com lampejos, como Fred. O fato de Fred fazer tanto sucesso no Fluminense depõe contra o Fluminense e contra futebol brasileiro. E dizer que o Santos - espreguiçando-se em campo - jogou bem, domingo último contra o Guarani, é um atentado ao futebol. Mas temos vivido desses terrorismos constrangedores. E toda uma ética, uma forma de jogar futebol aparentemente foi suprimida. Isso vem de longe, e passa também pela câmera ressaltar tanto a figura do técnico e seus esgares, à beira do campo.
E esquecer o jogo.
iv.
Hoje, na América do Sul, La U de Chile, na esfera dos clubes, e o Uruguay, no nível das seleções, representam mais do que fomos no passado do que qualquer time brasileiro, incluída a duplamente confusa Seleção. Duplamente: 1. por não ter ideia de sua vocação; e 2. por não ter evoluído bulhufas na era do "cordato" Mano Menezes. O técnico gaúcho sabe como agradar jornalistas. É polido, e fez curso de marketing comunicacional. Porém como organizador de uma seleção, de um time em campo, está corpos atrás de Carlos Bledorn, vulgo Dunga. O capitão do tetra, a despeito de seu contestável estilo postado em contrataques - e não menos nas entrevistas - ao menos sabia organizar e dar um padrão de jogo a uma equipe. Sabia o que queria. Além de atentar para um facto: a Seleção Brasileira, mesmo em fase de transição, tem um padrão de estatísticas a zelar. E pode-se discordar da filosofia de Dunga. Mas, por outro lado, reconhecer que sua época foi a de entrar nas competições para ganhar.
O que é filosofia que se vem atrofiando quando se pensa em futebol e Brasil.
v.
Que a figura de Neymar concentre tanto é o de esperar. Vai bem com nossa mentalidade. Que o garoto é tocado pela genialidade, não se discute. O que deve-se discutir é a andorinha, o verão. O tanto que Neymar não resolve sozinho parada alguma. E é necessário, então, um time em torno dele. E, assim, a solução passa por outros nomes: Oscar, Leandro Damião, Lucas, Arouca, o eclipsado e ainda sob suspeita Ganso, e quem mais surgir. Um time e uma geração que, de resto (e para quanto durar a direção de Menezes como selecionador, se tem a impressão) ainda não mostraram a cara, a coroa.
E a que vieram.
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