gosto
da palavra urubu. ela tem algo de tupi que eu não renego. e talvez
eu tenha algo de nômade que ela quer. de forma que os pronomes relativos nos reúnem. a última vez que fui ao supermercado, comprava frutas. e quando me virei, ela me olhava densa, sossegada com aqueles olhos gostosos, um pouco sonsos de te quiero. mas desde que a pronuncio
numa língua europeia, ela também soa assim engraçada. meio
primitiva, distante, com essa vogal reiterando. e soa engraçada
mesmo a mim, que nunca vou ser inteiramente europeu. que às vezes
pressinto numa fração de segundo a cor negra de seus us nas penas
da ave. soar engraçado. e, pior, a palavra urubu - bater de asas,
flecha, chispa posta em equação - sabe bem a quem soa. e então
revoa sobre fortaleza como el condor pasa, personagem de cartoon. um
vôo impossível, aliás: o dia é chuvoso. e, ainda assim, nessa
grande fantasia que é linguagem, ela e eu seguimos juntos tomando
banho de chuva e debochando da semiótica em banho-maria e do
departamento de letras vernáculas.
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