Popó
–
Velhote ranzinza, hipocondríaco, misantropo. Saído de um museu. Reclamava de tudo, de todos. Em birra permanente com enfermeiras e, sobretudo, com seu paciente e amigo Albamerindo –
um dos “escadas” mais brilhantes da teledramaturgia. Popó
desmentia qualquer idealização da velhice como melhor idade.
Nenhuma sabedoria: tudo neurastenias. Parecia indicar o quanto o
que se enche a boca para chamar de experiência é muito
mais enfado, cansaço, ressentimento, rancor. Quem não conhece ou é alguém assim?
Lingote
–
O
bicho-grilo com voz de baixo profundo que cuspia mais gírias e
disparates por segundo que banguelo cospe semente em fim de feira.
Eterno garotão na vida mental - embora visivelmente já com a vida pelo meio - Lingote era malandro e um tanto inofensivo. A não ser a si mesmo. Longe de sua turma, logo caia em crises existenciais inúteis e becos outros sem saída. Mestre em buscar coceiras e sarnas, feito certos malucos dos tempos de graduação e depois.
Pantaleão
–
Em
1927, as coisas eram maiores, mais brilhantes. Os homens conversavam
com os bichos. Pontuados pela mais deslavada mania de distorcer para mais, os hiperbólicos relatos
de Pantaleão eram o índice do tanto que a "época dourada" está sempre em outro tempo. Em geral, no tempo da juventude de quem narra. Terta e Pedro Bó, dignos escudeiro desse mitômano, criaram nexos para seus melhores sketches. Assim como a cadeira de balanço e o alpendre.
Alberto
Roberto -
Galã
autocentrado, canastrão, vagamente inspirado em Meira/Cuoco, segundo uns; ou mais diretamente em
Hélio Souto, segundo outros, Alberto Roberto era tosco e, no fundo, ingênuo como uma prima-donna. O
artista megalômano por excelência, que desprezava qualquer colega de
ofício, fosse Brando, De Niro ou Al Pacino. Roía o juízo de quem vinha
contracenar com ele. E era ainda melhor quando dividia as falas com um
Lúcio Mauro na pele de diretor, tentando remendar a cena e contemporizar a
qualquer custo.
Coalhada -
Ex-jogador
em atividade, depois de haver assinado muitos contratos em branco. Medíocre mas carismático a seu modo. Amigo das farras, Coalhada vivia, um tanto posterior a elas, já de brisa e improviso. Permanentemente sem dinheiro, na iminência de assinar um contrato maravilhoso, que só existia em seus melhores sonhos. Era assombrado ainda por
uma crônica dificuldade de expressão, formando termos com cacos de
palavras e traduzindo-se por um futebolês perto de indistinguível.
Roberval
Taylor -
O locutor de rádio por excelência: "prefixos" e clichês impagáveis. No fundo, pegando um atalho para o incomunicável. Depois, como sucede na vida real, migrou para a TV. A voz estilizada, possante. O sentimentalismo e a oscilação de mentalidade análogas ao nome. Ou seja, entre Holywood (Taylor) e o mais afetado cafundó do Judas (Roberval). Uma metáfora da dualidade que passa recibo de Brasil. Do Brasil de então e, por que não, ainda de agora.
O locutor de rádio por excelência: "prefixos" e clichês impagáveis. No fundo, pegando um atalho para o incomunicável. Depois, como sucede na vida real, migrou para a TV. A voz estilizada, possante. O sentimentalismo e a oscilação de mentalidade análogas ao nome. Ou seja, entre Holywood (Taylor) e o mais afetado cafundó do Judas (Roberval). Uma metáfora da dualidade que passa recibo de Brasil. Do Brasil de então e, por que não, ainda de agora.
Canavieira -
Prefeito inescrupuloso, acoronelado, com sotaque do Nordeste e todos
subentendidos, tiques e reticências que isso implica. Pré-anuncia o
Odorico Paraguaçu, que posteriormente Paulo Gracindo irá consagrar
no Bem-Amado. E bem pode ser melhor avaliado nesta amostra de Youtube, que é já sua segunda encarnação, e onde
se evidencia a sonsa colaboração de João Mocó [João Claudio Moreno].
*
No
caso de Chico Anysio, o cigarro o foi debilitando fisicamente e o
politicamente correto lhe acertou a pá de cal no espírito. O humor
praticado por ele, Jô Soares, Renato Aragão e outros nos anos 70
não teria a menor chance hoje. Era perspicaz e corrosivamente sem
censura, sob determinados aspectos. Embora, paradoxalmente,
convivesse com uma censura ostensiva. A censura de hoje em dia, no
entanto, não é menor, sob outros determinados, óbvios aspectos. E é ao menos tão nefasta quanto.
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