sábado, 24 de março de 2012

7 Chicos & tipos de antologia + uma consideração final



Popó
Velhote ranzinza, hipocondríaco, misantropo. Saído de um museu. Reclamava de tudo, de todos. Em birra permanente com enfermeiras e, sobretudo, com seu paciente e amigo Albamerindo – um dos “escadas” mais brilhantes da teledramaturgia. Popó desmentia qualquer idealização da velhice como melhor idade. Nenhuma sabedoria: tudo neurastenias. Parecia indicar o quanto o que se enche a boca para chamar de experiência é muito mais enfado, cansaço, ressentimento, rancor. Quem não conhece ou é alguém assim?
Lingote
O bicho-grilo com voz de baixo profundo que cuspia mais gírias e disparates por segundo que banguelo cospe semente em fim de feira. Eterno garotão na vida mental - embora visivelmente já com a vida pelo meio - Lingote era malandro e um tanto inofensivo. A não ser a si mesmo. Longe de sua turma, logo caia em crises existenciais inúteis e becos outros sem saída. Mestre em buscar coceiras e sarnas, feito certos malucos dos tempos de graduação e depois.
Pantaleão
Em 1927, as coisas eram maiores, mais brilhantes. Os homens conversavam com os bichos. Pontuados pela mais deslavada mania de distorcer para mais, os hiperbólicos relatos de Pantaleão eram o índice do tanto que a "época dourada" está sempre em outro tempo. Em geral, no tempo da juventude de quem narra. Terta e Pedro Bó, dignos escudeiro desse mitômano, criaram nexos para seus melhores sketches. Assim como a cadeira de balanço e o alpendre. 
Alberto Roberto -
Galã autocentrado, canastrão, vagamente inspirado em Meira/Cuoco, segundo uns; ou mais diretamente em Hélio Souto, segundo outros, Alberto Roberto era tosco e, no fundo, ingênuo como uma prima-donna. O artista megalômano por excelência, que desprezava qualquer colega de ofício, fosse Brando, De Niro ou Al Pacino. Roía o juízo de quem vinha contracenar com ele. E era ainda melhor quando dividia as falas com um Lúcio Mauro na pele de diretor, tentando remendar a cena e contemporizar a qualquer custo.
Coalhada -
Ex-jogador em atividade, depois de haver assinado muitos contratos em branco. Medíocre mas carismático a seu modo. Amigo das farras, Coalhada vivia, um tanto posterior a elas, já de brisa e improviso. Permanentemente sem dinheiro, na iminência de assinar um contrato maravilhoso, que só existia em seus melhores sonhos. Era assombrado ainda por uma crônica dificuldade de expressão, formando termos com cacos de palavras e traduzindo-se por um futebolês perto de indistinguível.
Roberval Taylor - 
O locutor de rádio por excelência: "prefixos" e clichês impagáveis. No fundo, pegando um atalho para o incomunicável. Depois, como sucede na vida real, migrou para a TV. A voz estilizada, possante. O sentimentalismo e a oscilação de mentalidade análogas ao nome. Ou seja, entre Holywood (Taylor) e o mais afetado cafundó do Judas (Roberval). Uma metáfora da dualidade que passa recibo de Brasil. Do Brasil de então e, por que não, ainda de agora. 
Canavieira -
Prefeito inescrupuloso, acoronelado, com sotaque do Nordeste e todos subentendidos, tiques e reticências que isso implica. Pré-anuncia o Odorico Paraguaçu, que posteriormente Paulo Gracindo irá consagrar no Bem-Amado. E bem pode ser melhor avaliado nesta amostra de Youtube, que é já sua segunda encarnação, e onde se evidencia a sonsa colaboração de João Mocó [João Claudio Moreno].
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No caso de Chico Anysio, o cigarro o foi debilitando fisicamente e o politicamente correto lhe acertou a pá de cal no espírito. O humor praticado por ele, Jô Soares, Renato Aragão e outros nos anos 70 não teria a menor chance hoje. Era perspicaz e corrosivamente sem censura, sob determinados aspectos. Embora, paradoxalmente, convivesse com uma censura ostensiva. A censura de hoje em dia, no entanto, não é menor, sob outros determinados, óbvios aspectos. E é ao menos tão nefasta quanto.


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