– um giro pelos suplementos literários do planeta
Bom e breve obituário de Bernard Knox. Knox [1914-2010] foi um reputável tradutor, professor e estudioso do grego clássico. Escrevia soberbamente, como atesta o prólogo à tradução da Ilíada por Robert Fagles [Penguin Books]. Fiz questão de citar trechos desse magnífico prólogo num texto chamado Prefácio a Aquiles [encontrável na rede Aqui]. Knox estudou e, posteriormente, ensinou em Cambridge. Lutou na Guerra Civil Espanhola e na II Guerra Mundial, onde foi para-quedista. Portanto, sabia empiricamente do que estava falando ao tratar da violência da Guerra de Troia, e de seu principal protagonista. Knox parece ser da cepa daqueles europeus que estão desaparecendo: os que conheceram as vacas magras, o frio, a fome, a guerra, as bombas, a violência, a incerteza, o terror, o genocídio, a ruína, a privação. Quase foi morto na Espanha, onde lutou ao lado dos Republicanos, e onde foi deixado para trás, com a carótida aberta, desenganado, por seu próprio pelotão. Dele se pode repetir o que o obituarista, seu ex-aluno, declarou, em lucidez, haver sido sua tarefa de professor – por meio de um verso de Ésquilo – : “abrigar a luz à sombra”. No NYR of Books.
Livro de Christopher Caldwell, The Tenth Paralell, trata da verdadeira batalha travada entre cristianismo e islamismo na África contemporânea. Sem dúvida, a África é, de momento, “a fronteira espiritual”. Pelo calor humano com que aborda a questão, distante de maniqueismos e habituais clichês jornalísticos ou mesmo biográficos, a obra merece leitura mais detida por parte de quem se interessa pelo assunto. O livro não se furta ao relato anedótico e até certa dose de humor. Na Slater.
Extenso perfil, cheio de verve, do orientalista Edward Said: “um homem que gostava da palavra 'estilo'” e cujo primeiro estudo foi sobre Joseph Conrad e a ficção autobiográfica. Difícil dizer se Said manter-se-á como teórico. Teórico, aliás, que traça relações entre o Ocidente e um Oriente, de início ficcionalizado e exotizado [pelo Ocidente] até a raiz dos cabelos. Mas tudo que faz menção a Conrad, nem que na tangência, merece ser sublinhado. O autor do artigo é Michael Wood. No London Review of Books.
Entrevista com Paul Theroux. O assunto? Livros digitais! Num determinado momento ele diz, quando questionado sobre a possível inflação de livros em função das excessivas facilidades da publicação digital: “mas não estão as bibliotecas abarrotadas de livros que ninguém lê?”. Convenhamos, é verdade! Na Atlantic Magazine.
5. Ações, subindo,descendo, montanharussamente na Bolsa de Valores Literária [http://www.guardian.co.uk/books/booksblog/2010/sep/24/author-reputation-dostoevsky]
De como a reputação de Dostoiévski foi avassaladoramente arrassada em 1846. Em certo blog do Guardian Books.
Romance de um jovem escritor americano, chamado Tao Lin [27 anos]. Leva o nome do outro escritor, mais famoso: Richard Yates. Talvez por tentar reviver a intensividade sinestésica do estilo de Yates. Mas o centro da trama é um amor juvenil que se dá entre Nova York e Nova Jersey. Ele tem 22; ela, 16. No NYT Books.
Um estudo de como os atentados terroristas, as teorias conspiratórias e a difamação de agentes infiltrados, bem mais que os esforços de Marx, desacreditaram quase por completo o anarquismo. The World That Never Was – A True Story of Dreamers, Schemers, Anarchists and Secret Agents, massudo ensaio de quase 500ps. sobre o tema,por Alex Butterworth. Uma delícia para quem aprecia o tema desde as compilações do velho e bom George Woodcock, ainda lidas, no segundo grau, nas traduções da L&PM. E obviamente perdidas em empréstimos a amigos [tss, tss]. Resenha no LA Times.
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