Thom Mayne, World Trade Center Site Proposal, 2002
Terrorismos, violência, um preá, a grande arte & o pintor cocainômano
A temática do terrorismo é fascinante porque confronta a singularidade do homem desesperado à potência impessoal do Estado. Algo assustador, repugnante. Mas cheio de fascínio.
Do mesmo modo, qualquer dirigente que apóia terroristas merece ser execrado. A começar por Bush. Pela aventura norte-americana no Afeganistão, no Iraque, que, sob o pretexto de combater terroristas, funda novos terrores. Mas há também Chavez, o mais recente de toda uma longa linhagem de caudilhos.
Digo desse fascínio porque, em parte, sinto que todo mundo tem enorme propensão a ser terrorista, incendiário. Reconheço em mim essa pulsão carbonária.
Verdade que a última vez que julguei haver atropelado um preá, durante uma viagem, tive pesadelo. Ainda me lembro do estampido surdo que proveio do pneu dianteiro direito. Mas não penso que um terrorista que põe uma bomba no metrô sabendo que vai matar duas centenas de inocentes é menos sensível do que eu ao atropelar um preá.
Talvez alguns deles, do contrário, como homens de ação, houvessem brecado o carro: a quantas mesmo ficara o preá? Amassado sobre o asfalto? Fui capaz apenas de torcer por um raspão e o roedor chegando intacto – um pouco zonzo, é verdade -- ao outro lado da pista.
A violência é uma espécie de maldição humana.
Alguns são violentos literalmente. Rufiões de primeira grandeza. Chegados a um quebra-pau. Há os que preferem levá-la para cama, junto com toda uma série de fetiches e elaborações fingidas. De outra forma, existem os que guardam-na para causas “nobres”, como os terroristas. E há também a violência simbólica. A que propôs os elevadores de serviço. Ou a da publicidade, que quer forçar entrada em nossos sonhos. Palavras. Gestos. E sim, há os passionais. Ou ainda aqueles encrenqueiros profissionais, que não passam sem sua cota diária de feud. Enfim, a instância da violência nos parece inescapável. Desconfio que alguns dos mais escorreitos pacifistas já se envolveram em tremendos quebra-paus. Seria mais fácil crer neles depois disso.
Aliás, alguns fundamentalistas atuais beiram a intolerância dos terroristas e guerrilheiros: anti-tabagistas, ambientalistas, amigos dos povos da floresta, psicanalistas, feministas e pós-estruturalistas mais exaltados. E, além desses, de uns tempos para cá, há outra espécie mui perigosa de terrorista: aquele tipo que atribui à arte, à cultura uma instância litúrgica, um valor religioso.
Outro dia, por exemplo, havia esse protesto, em tom exaltado, de um blogueiro. A razão era que a clarabóia de determinado pintor seria ensombrecida por um andar a mais a ser construído pelo vizinho do lado. Tudo pela arte. Afinal, o que é a vida diante dela, senão uma nota de rodapé sem importância?
Aqui, certamente meu lado incendiário me faz pensar que o vizinho estava construindo o quarto nos altos para um bebê prestes a chegar. E que suas razões eram, quem sabe, melhores do que as do ressequido pintor de meia-idade – que podemos imaginar um magricela calvo, de óculos de aros finos, cabelos grisalhos, longos, apanhados em rabo de cavalo, um livro de Deleuze nas mãos e uma partida de cocaína sobre a mesa, junto à sua clarabóia condenada.
Há um terrível acúmulo de tédio e violência em figuras assim.
Mas eu sou esse pintor. Ao menos, guardadas as proporções, do mesmo modo que Flaubert reivindicava ser Madame Bovary.
Do mesmo modo, qualquer dirigente que apóia terroristas merece ser execrado. A começar por Bush. Pela aventura norte-americana no Afeganistão, no Iraque, que, sob o pretexto de combater terroristas, funda novos terrores. Mas há também Chavez, o mais recente de toda uma longa linhagem de caudilhos.
Digo desse fascínio porque, em parte, sinto que todo mundo tem enorme propensão a ser terrorista, incendiário. Reconheço em mim essa pulsão carbonária.
Verdade que a última vez que julguei haver atropelado um preá, durante uma viagem, tive pesadelo. Ainda me lembro do estampido surdo que proveio do pneu dianteiro direito. Mas não penso que um terrorista que põe uma bomba no metrô sabendo que vai matar duas centenas de inocentes é menos sensível do que eu ao atropelar um preá.
Talvez alguns deles, do contrário, como homens de ação, houvessem brecado o carro: a quantas mesmo ficara o preá? Amassado sobre o asfalto? Fui capaz apenas de torcer por um raspão e o roedor chegando intacto – um pouco zonzo, é verdade -- ao outro lado da pista.
A violência é uma espécie de maldição humana.
Alguns são violentos literalmente. Rufiões de primeira grandeza. Chegados a um quebra-pau. Há os que preferem levá-la para cama, junto com toda uma série de fetiches e elaborações fingidas. De outra forma, existem os que guardam-na para causas “nobres”, como os terroristas. E há também a violência simbólica. A que propôs os elevadores de serviço. Ou a da publicidade, que quer forçar entrada em nossos sonhos. Palavras. Gestos. E sim, há os passionais. Ou ainda aqueles encrenqueiros profissionais, que não passam sem sua cota diária de feud. Enfim, a instância da violência nos parece inescapável. Desconfio que alguns dos mais escorreitos pacifistas já se envolveram em tremendos quebra-paus. Seria mais fácil crer neles depois disso.
Aliás, alguns fundamentalistas atuais beiram a intolerância dos terroristas e guerrilheiros: anti-tabagistas, ambientalistas, amigos dos povos da floresta, psicanalistas, feministas e pós-estruturalistas mais exaltados. E, além desses, de uns tempos para cá, há outra espécie mui perigosa de terrorista: aquele tipo que atribui à arte, à cultura uma instância litúrgica, um valor religioso.
Outro dia, por exemplo, havia esse protesto, em tom exaltado, de um blogueiro. A razão era que a clarabóia de determinado pintor seria ensombrecida por um andar a mais a ser construído pelo vizinho do lado. Tudo pela arte. Afinal, o que é a vida diante dela, senão uma nota de rodapé sem importância?
Aqui, certamente meu lado incendiário me faz pensar que o vizinho estava construindo o quarto nos altos para um bebê prestes a chegar. E que suas razões eram, quem sabe, melhores do que as do ressequido pintor de meia-idade – que podemos imaginar um magricela calvo, de óculos de aros finos, cabelos grisalhos, longos, apanhados em rabo de cavalo, um livro de Deleuze nas mãos e uma partida de cocaína sobre a mesa, junto à sua clarabóia condenada.
Há um terrível acúmulo de tédio e violência em figuras assim.
Mas eu sou esse pintor. Ao menos, guardadas as proporções, do mesmo modo que Flaubert reivindicava ser Madame Bovary.
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