Jacob Lawrence, 1941
Um contigente que jamais se uniu (nos termos reivindicados)
Brada certo chavão que "o povo unido jamais será vencido". Mas o povo, plural, festivo em sua maioria e um tanto refratário a chavões, jamais se uniu. Talvez receoso da possibilidade de ser vencido uma vez mais. Como desde sempre o foi, desunido.
Naquele 11 de setembro, o professor faltou. Velho Leão de Alencar. Que um dia, na sala, disse que estava escrevendo um livro de contos. Num deles, Leão dizia, um sujeito que encontrara na praia uma garrafa de vidro com uma carta dentro, passava os dias e as noites a inventar os conteúdos mais improváveis para a tal carta, sem jamais resgatá-la de dentro da garrafa, trazendo à vida, aos olhos, as palavras. Pensei: eu quero ler esse conto. Fiz dois semestres de Teoria da Literatura com o professor Leão, que nunca lançou o livro. Nunca li o conto. O sujeito lá também nunca leu a carta. Esse conto do professor Leão, acho, está impresso na memória de um modo mais rente do se eu o tivesse lido. Naquele 11 de setembro, voltei pra casa cedo, de Circular, 011. Não entro pela porta da sala de visitas, como de costume, mas pela porta da sala da TV, que por sinal está ligada: dois prédios gigantescos e fumegantes. A curiosidade apressada embaralhando a interpretação. Word Trade Center. Mais do que isso: New York. 20's, Scott e Zelda triunfais e bêbados na 5ª Avenida; 50's, João Gilberto, Tom Jobim e Stan Getz; Village, 60's, Bob Dylan; 70's, Woody Allen correndo em preto e branco, e a filha de Hemingway sugerindo "You've got to have some faith on people". 90's, Seinfeld, laughs & laughs & laughs. 00's, TV ligada, almoço pensativo. História não tem fim.
ResponderExcluirp.s.: muito bom o texto sobre o 11 de setembro, and thanks for the kind words, my lad.
engraçado, odorico, o primeiro texto q. publiquei (no 'diário do nordeste', em 1984), contava um historinha mto. semelhante à do conto de seu professor.
ResponderExcluirwell, well, the words are not only kind, they're sincere too.
abs.
ruy