terça-feira, 2 de setembro de 2008

A fogo e ferro


Yuri Kurjpta, 2008



Viver dentro da prece

Pessoas de hábitos extremamente regulares. Em geral, são vistas como bitoladas. "Quadradas", "caretas", "sem brilho próprio". "Doem no juízo" das outras. Nunca chegarão a ser "poderosas", "carismáticas". Pense naquele ser humano que sempre faz o mesmo percurso do trabalho para casa gastando mais ou menos o mesmo lapso. Ou que circula pela casa passando com os mesmos passos por espaços determinados em horas regulares. Ou que trabalha há anos, sentado à mesma escrivaninha, na repartição, ganhando seu salário, que não dá muito mais do que para o sustento de si e da família. É, não parece um programa de vida muito estimulante. Afinal, é necessário expressar-se. Dar vazão ao espírito. Dar uma voz às inquietações interiores. Realizar desejos, aspirações. "Realizar-se", como se diz. Os budistas, no entanto crêem que a força mental de uns poucos seres humanos é que mantém o mundo. Não é um pensamento mau. Mas se houver um fundo de verdade nisso, pode-se imaginar alguém assim, extremamente disciplinado. Alguém para quem os jogos de palavras e os belos discursos não contam diante da rotina, dos atos corriqueiros. Sem disciplina, de fato, se chega a muitos lugares. E a nenhum. Num mundo como o nosso, onde tudo é pressa, superfície e profusão, viver com poucas referências, alguma aplicação e uma disciplina --- certamente construída a fogo e ferro --- é viver dentro da prece.

2 comentários:

  1. Por coincidência, passei a manhã inteira de hoje dentro desse pensamento. Tudo é pressa e multiplicidade -- ganância mesquinha.
    Abs,

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  2. olá, daniel,

    estou gostando de ver a sequência da história lá pelo 'sursum corda'.

    aliás, ñ se se sou tão cético qto. aos desportistas. certamente ñ sou qto. ao brasil. mas concordo com v. qto. ao "vale de lágrimas". para ñ falar daquelas reportagens ridículas, obscenas na casa dos parentes dos atletas. isso devia ser proibido.

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