Yuri Kurjpta, 2008
Viver dentro da prece
Pessoas de hábitos extremamente regulares. Em geral, são vistas como bitoladas. "Quadradas", "caretas", "sem brilho próprio". "Doem no juízo" das outras. Nunca chegarão a ser "poderosas", "carismáticas". Pense naquele ser humano que sempre faz o mesmo percurso do trabalho para casa gastando mais ou menos o mesmo lapso. Ou que circula pela casa passando com os mesmos passos por espaços determinados em horas regulares. Ou que trabalha há anos, sentado à mesma escrivaninha, na repartição, ganhando seu salário, que não dá muito mais do que para o sustento de si e da família. É, não parece um programa de vida muito estimulante. Afinal, é necessário expressar-se. Dar vazão ao espírito. Dar uma voz às inquietações interiores. Realizar desejos, aspirações. "Realizar-se", como se diz. Os budistas, no entanto crêem que a força mental de uns poucos seres humanos é que mantém o mundo. Não é um pensamento mau. Mas se houver um fundo de verdade nisso, pode-se imaginar alguém assim, extremamente disciplinado. Alguém para quem os jogos de palavras e os belos discursos não contam diante da rotina, dos atos corriqueiros. Sem disciplina, de fato, se chega a muitos lugares. E a nenhum. Num mundo como o nosso, onde tudo é pressa, superfície e profusão, viver com poucas referências, alguma aplicação e uma disciplina --- certamente construída a fogo e ferro --- é viver dentro da prece.
Por coincidência, passei a manhã inteira de hoje dentro desse pensamento. Tudo é pressa e multiplicidade -- ganância mesquinha.
ResponderExcluirAbs,
olá, daniel,
ResponderExcluirestou gostando de ver a sequência da história lá pelo 'sursum corda'.
aliás, ñ se se sou tão cético qto. aos desportistas. certamente ñ sou qto. ao brasil. mas concordo com v. qto. ao "vale de lágrimas". para ñ falar daquelas reportagens ridículas, obscenas na casa dos parentes dos atletas. isso devia ser proibido.