Venetia Joubert, Intoxicating Whirlwind Kiss, 2009
Eu não teria uma embriagante satisfação
As entrevistas de Amos Oz, à granel, parecem menos interessantes que as de Le Clézio ou as de Auster. Centram-se muito em política. Recorrem demais sobre o conflito árabe-israelense. E também sobre ele dizer que a família é o que lhe interessa. Falar um pouco de escritores russos (Dostoiévski, Tolstoi, Tchekov – que parece ser seu favorito); os norte-americanos (Melville, Sherwood Anderson, Faulkner); além de ser fascinado pela figura e pelo pensamento de Espinosa. Mas há estas frases interessantes:
Of course I think of death. I wouldn’t have an intoxicated enjoyment of life if I didn’t think of death every day. I think of death, but even more I think of the dead. Thinking of the dead is preparing for one’s own death. Because those dead people exist only in my memory, my longing, my ability to reconstruct a bygone moment, almost a Proustian recapturing of precise gestures, which might have occurred fifty years ago. One day I spent hours quietly reconstructing a ten-minute episode of my childhood: a room with six people in it, and I am the only one still alive. Who was sitting where? Who was saying what? Then I thought, I’m keeping those people alive for as long as I can, in my heart, my head or my writing. If when I die someone will keep me alive in the same way, it will be a fair deal. […] I love life and enjoy it tremendously, but part of that enjoyment is that my life is populated with the dead as well as the living. If death arrived tonight, it would find me angry and unwilling, but not unprepared.
É claro que penso na morte. Eu não teria uma embriagante satisfação pela vida se não pensasse na morte a cada dia. Mais que pensar na morte, penso nos mortos. Pensar nos mortos é preparar-se para a própria morte. Porque os mortos existem apenas na memória, minha recordação, minha destreza em reconstruir um momento ido, quase uma recaptura proustiana dos gestos precisos, que podem ter se passado cinquenta anos atrás. Dia desses, gastei horas reconstruindo um episódio de dez minutos da minha infância: uma sala com seis pessoas nela, e sou o único ainda vivo. Quem estava sentado onde? Quem dizia o quê? Assim, acho que mantenho as pessoas vivas o máximo que posso em meu coração, minha mente, minha escrita. Se quando eu me for alguém me mantiver vivo do mesmo jeito, será uma troca justa. […] Eu adoro viver e desfruto disso tremendamente, mas parte desse prazer vem de que minha vida seja povoada tanto por mortos quanto por vivos. Se a morte chegar à noite, vai me encontrar irritado e inquieto, mas não despreparado.
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