segunda-feira, 31 de agosto de 2009

Não há senhas


Vasili Kandinsky, Eternidade de versos sem palavras, 1902




Palavra-passe



Madrugada,

o desassossego corta

finas fatias de silêncio

e passos pulsam

no coração suavíssimos.



Das ameias já quase

se divisa alvorada;

os olhos veem verdade

e tudo que busco

verte-se corpo afora

como uma palavra-passe

que antecede cidade.



Abraço madrugada.

Beijo os olhos lentos, espalmo

dedos por toda dobra, parte,

cada: ilhas, segredo.

E lhe digo:

me dê uma senha!



Mas ela comprime os olhos,

ameaça abrir dia,

sorri só lábios

e diz baixinho

brasa de breu

na última lenha,



o verniz sofreado:

não há senhas!





* * *


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