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Vasili Kandinsky, Eternidade de versos sem palavras, 1902
Palavra-passe
Madrugada,
o desassossego corta
finas fatias de silêncio
e passos pulsam
no coração suavíssimos.
Das ameias já quase
se divisa alvorada;
os olhos veem verdade
e tudo que busco
verte-se corpo afora
como uma palavra-passe
que antecede cidade.
Abraço madrugada.
Beijo os olhos lentos, espalmo
dedos por toda dobra, parte,
cada: ilhas, segredo.
E lhe digo:
—me dê uma senha!
Mas ela comprime os olhos,
ameaça abrir dia,
sorri só lábios
e diz baixinho—
brasa de breu
na última lenha,
o verniz sofreado:
—não há senhas!
* * *
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