Bruce Nauman, 1969
Em duas letras e um agudo: Jó
Quer uma indicação de leitura absolutamente acima de qualquer suspeita: Jó. É um dos livros bíblicos mais enigmáticos. Provém de algo que transcende a cultura hebraica - e, no entanto nela se inscreve. Os consoladores de Jó: nada há de mais parecido com esses que querem fazer justiça social não por integridade pessoal, mas por uma espécie de incapacidade de realizá-la no dia-a-dia. São os consoladores. Aqueles para quem o discurso é maior que o ato em acúmulo. Os chatos da vez. Os que prescrevem justiça sem nenhuma noção mais sólida do que isso, de fato, é. Hipocrisia pura. Não se renda aos consoladores. Seja impertinente. Mesmo com a carne lacerada, podre, os dentes cheios de cáries e as idéias fora do lugar, confusas de tanta dor, opte por Jó. E, mais, evite a tradução ensimesmada e apostrófica de Haroldo de Campos. Não se pode crer num sujeito que passou a vida inteira trancado em sua casa, em Perdizes, São Paulo, julgando conhecer o mundo através dos livros e cuidando de felinos, enquanto traduzia Octavio Paz. A tarefa civilizadora de Haroldo é imensa - inclusive como tradutor. Ou então, em seu esforço de renovar os estudos de semiótica na PUC. Mas em matéria de coerência, Augusto dá de dez a zero. O Haroldo da mea-culpa, do pós-tudo, é um dos consoladores de Jó.
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