Com Virna Teixeira e Eduardo Jorge, São Paulo [16.10.08]
[Foto: André Dick]
Espaçarias e funambulagens de uma vida entre garranchosVirna e Edu. Duas conversas - nunca tão-só virtuais - reencontradas pessoalmente. Ela escreve livros de versos como Visita e Distância [7Letras]. Sóbrios, reticentes, reprocessando boas sugestões recentes de poesia em língua inglesa. Temperando-as com uma aguçada sensibilidade visual. Para além, tem traduzido poetas predominantemente do inglês. Em especial, os escoceses [Na Estação Central (Edwin Morgan) e Ovelha Negra (antologia de poetas contemporâneos)]. Verter, essa tarefa cívica. No melhor sentido: elastecimento da língua, postavanção de limites. Mr. Jorge lançou Cadernos do Estudante de Luz e Espaçaria [Lumme], além de ocupar-se com outras mil vadiagens e uma, como videopoesia - cuja discussão gerou, talvez, o mais aceso debate no recente Simpoesia. A partir dos conceitos de Virna, sugeridos pelos títulos de seus livros, assim como da coleção disjuntiva de epaços do Edu, é que penso em ambos. Ou seja, nos termos de uma proximidade espacial que é tão óbvia, a ponto de nos reunir em torno de alguns copos de chope e boa prosa em São Paulo. Virna morou na Monsenhor Bruno - rua de Fortaleza em que moro - à altura em que eu morava no Reino Unido, onde ela depois morou. Edu, alguns anos depois de mim - posto que ambos são uns fedelhos - habitou o mesmo apartamento que ocupei aí pelos idos de 1995-96 no mítico Edifício São Pedro, Praia de Iracema. ("Os que habitaram o quinto andar do São Pedro estiveram mais perto do Céu, e herdarão o Reino"). Aliás, Edu escreveu um poema e gravou um vídeo tomando como mote o velho edifício. [O vídeo, alcunhado San Pedro: Interferência, com a colaboração de Alexandre Veras.] Coincidências? Nããã. Foi tudo planejado. As interseções espaciais, em distintos tempos e ritmos, dizem também de certa confluência e articulação na singularidade.
1. Funâmbulo como se Elástico 2.
destes olhos.
[Eduaro Jorge]Detox
Enrolou os ferimentos em gaze. Feridas cicatrizam com o tempo. Ainda que restem entalhes. Memórias desenhadas nos ossos, adornos.
Tirou fotografias como registros. Meses após o trauma. Sem sangue nas conjuntivas.
Deixou para trás a câmera. Travesseiro, lençol branco, a água morna do banho. Inverno, lembrança noturna.
A transformação do rosto. Quando retirou as ataduras, as suturas.
No dia da partida, árvores. De perfil no trem, a luz sobre os cabelos, castanhos.
[Virna Teixeira]
manhã
quando chega
a manhã,
o lago
também reflete
estantes
(a palavra clara
dentro do seu nome),
como se vidros
sentissem saudade
depois que passa
a paisagem
[André Dick]p.s. -- Tentem conhecer algo mais sobre André Dick. Esse poeta e ensaísta gaúcho tem muito mais o que fazer na vida do que clicar três cearenses bebendo chope e jogando conversa. Notem a abertura dos nomes neste terceiro poema ("manhã", "lago", "palavra", "nome", "vidro", "paisagem") contraposta ao opaco dessa "saudade" (tendo a ler "estantes" como adjetivo por alguma desrazão, dessas que só a poesia). Tudo aqui é engenho e quase vítrea transparência. Encontra-se também uma vidraça que segue perfeitamente elíptica. Como usam ser. Ao menos tanto quanto essa sensibilidade à brasileira. E, melhor, escrita desde Novo Hamburgo. Como se não bastasse, o poema é uma remodelação de uma das formas mais notáveis da lírica medieval: a alba.//De resto, no plano pessoal, reconheço que a única virtude da pose, nesta foto, é de estar levemente parecido com Otto Maria Carpeaux. Mas infelizmente erudição não passa por semelhança.
oi ruy
ResponderExcluir3 tres cearenses!!!!!!!!!!!
eduardo, ruy, virna!!!!!!!!!
No dia da partida, árvores. De perfil no trem, a luz sobre os cabelos, castanhos.
[Virna Teixeira]
abraços
olá, silke,
ResponderExcluirtudo nos trilhos? ,mas quantos brilhos?
abs.