quinta-feira, 29 de dezembro de 2011

Uma questão de nomes?

[s/i/c]


A "Cordialidade" Brasileira e os Scholars

Há um ponto comum, que se repete à exaustão, no panorama traçado por scholars estrangeiros que de momento escrevem sobre o Brasil. E esta interseção tem a ver com certo pasmo diante da ausência de maiores antogonismos ou conflitos. Via de regra, esses scholars atribuem à abolição tardia - e, logo, à inércia do regime escravagista - essa tradição de não conflito. Mas esquecem que a abolição no Brasil se deu cerca de duas décadas após a americana. E duas décadas em história, convenhamos, não é lá grande coisa. Também esquecem que ao contrário de nossos vizinhos na América Latina, o Segundo Império conheceu, para a época, um razoável grau de democracia. Logo, fica patente que o que esses analistas desejam ardentemente é um maior número de conflitos, greves, revoltas, sangue. Certo dramatismo social a compor com alguns dinamismos econômicos aparentemente inexplicáveis - como nosso primeiro surto de industrialização ainda década de 10 do século passado, por exemplo. O certo é que há um desejo de revoluções maiúsculas, gestos palinódicos. Algo mais radical que 30. Um dramatismo que, de resto, eles encontrariam em Os Sertões, se estivessem melhor embasados. Mas a maioria deles nunca leu Os Sertões, apressados que estão em tecer uma análise do presente: a apologia do governo Lula ou explicar as razões da boa base econômica do Brasil à reboque da necessidade da China suprir-se de commodities.
Fica patente também que, para o azar deles, nunca leram Casa Grande & Senzala e Raízes do Brasil. Especialmente o primeiro. A cordialidade, nestes livros, assoma como uma nova forma de violência. Mais sutil, mais em desfaçatez. Mas nem por isso menos aguilhoante. Estas duas obras, a duas décadas de completarem cem anos, prosseguem sendo a base indispensável do pensamento sociológico sobre este país. E, de resto, livros agradabilíssimos de ler. Sobretudo o primeiro, que é uma obra-prima também do ponto de vista literário. E de uma originalidade que não concede ao cânone sociológico europeu ou norte-americano. Apesar de tomar emprestado de ambos. A própria Universidade de São Paulo por décadas ignorou Gilberto Freyre para cultivar um marxismozinho tacanho, que para variar louvava a ditadura cubana e do qual descendem entre outros Fernando Henrique Cardoso, a teoria da dependência em sua versão brasileira e alguns dentre os ideólogos do PT.
Pode-se, então, dizer que os scholars da vez se interessaram pelos Freyres e Buarques errados. Paulo Freire e Chico Buarque são recorrentemente mencionados em artigos do tipo. É chover no molhado reiterar que ambos aportam algo. Muito. Porém nem por sombras são tão importantes quanto Gilberto e Sérgio para se chegar a uma compreensão mais profunda deste país.


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