quinta-feira, 29 de dezembro de 2011

Vendedores de fumaça

[s/i/c]

Muito Chicago e Bruxelas por Nada

No início da década de 90, a condução da política econômica do México era apontada como modelo em todas as manchetes mundo afora. Vivia-se então a época em que o neoliberalismo era tido como a panaceia para todos os males, no rescaldo de Reagan e Thatcher.
Os Estados Unidos, com George Bush, o pai, conheciam os estertores dessa euforia neoliberal. As teorias da  Escola de Chicago, de que o mercado regularia tudo, ainda estavam na crista. E a Europa regurgitava com a perspectiva de selar de vez a União Europeia em 1993. Os blocos econômicos pareciam ser o único paradigma de competitividade num mundo globalizado. E quem estava dentro deles, estava feliz.
Àquela altura, ainda pouco se falava da China mas ninguém dos BRICS, e não poucos economistas por aqui deploravam a excessiva reserva do governo brasileiro em relação à Alca, o projeto de livre comércio proposto pelos Estados Unidos para as Américas. Segundo estes arautos neoliberais, estávamos perdendo uma oportunidade única, o trem da história, o bonde do sucesso, a chance de ouro, o caminho até o fim do arco-íris, o cavalo selado.
Hoje com a penúria da Zona do Euro a se aprofundar, ninguém mais fala em Alca. Nem os próprios Estados Unidos. E esses mesmos economistas desconversam quando alguém adentra o assunto. Teria sido um desastre haver selado numa associação de livre comércio tutelada pelos norte-americanos àquela altura.
Hoje, tudo isso se dimensiona muito bem.
Um dia, a conta pela não produtividade dos países europeus – com a patente exceção da Alemanha, da Polônia e de alguns poucos – tinha de chegar. Assim como a conta da drástica redução das taxas de crescimento demográfico e o progressivo envelhecimento da população. Itália e Espanha seguem à beira do colapso. O Reino Unido desindustrializou-se e fala até em abandonar a União. A França é séria candidata à bancarrota. O estado francês, ao contrário do alemão – onde a idade para aposentadoria foi esticada aos 68 anos – é irresponsavelmente assistencialista, e o jubilamento se dá aos 62. E enquanto os franceses se aposentam ou administram, os imigrantes árabes subpagos e morando mal suam, operam máquinas e realizam os trabalhos braçais que os franceses não acham mais digno fazer. Num escasso momento de lucidez, o próprio Sarkozy acendeu polêmica nacional ao divisar na Alemanha o modelo. A França ainda vai pagar muito caro esta conta. [E, de certa forma, o Brasil também, já que o governo Lula, na contramão da história, rebaixou a idade de aposentadoria para o serviço público].
Há só uns poucos anos atrás, ter uma vasta população era ônus. Hoje, é uma das poucas vantagens que um país como Bangladesh tem sobre a Suíça. Há, aqui, uma perspectiva de futuro em jogo. Há vinte anos, entre os países lusófonos, Portugal reluzia, aparecia no local certo, na época certa, com o bilhete premiado à mão. Ao Brasil só cabia lamentar sua australidade, incompetência e distância da próspera União Europeia, envolvido numa crise política que destituiu o primeiro presidente eleito por voto direto, a entrever o insucesso de seguidos planos econômicos de choque e uma inflação galopante: o moral era baixo.
Hoje, tudo virou do avesso. 
Nada mais volátil que elogios a fundamentos macroeconômicos. Eles mudam radicalmente num estalar de dedos. E fica essa impressão de que há pernas para o ar. Além de muita fumaça.
Será que daqui a uns quinze anos vai estar tudo ao avesso de novo?


* * *

Nenhum comentário:

Postar um comentário