quarta-feira, 28 de dezembro de 2011

Um Breve Relógio

[s/i/c]

Não Tarda

Antevéspera de Natal mas é sobretudo sexta-feira. Um frêmito desenfreia-se pela cidade. Um anti-clímax. A sensação de que todas as crianças resolveram por um dia no ano sair juntas e ocupar a rua. Pode-se ouvir as vozes delas em coros, muxoxos, vaias. O grito tiple das meninas.
Como é estar longe de todos? Como é estar distante assim da infância? Ao ponto de ouvi-la? Ao ponto de individuar cada voz? Ao ponto de não haver cortinas cobrindo as polifonias? 
Não se exaspere, Princesa. Tudo teve seu tempo. Tudo seu tempo terá. O modo como essas exultações, concórdias, vaias, refrões calcam solidão na noite não é desassossego de um. Porque não há uma só coisa neste mundo – nem mesmo para o eremita – que seja exclusiva.
Não tarda e essas vozes plenas de ímpeto, selva serão sequestradas pelo Departamento de Biologia, o Banco do Brasil, a Petrobrás, os balcões da Pedro I, o Fórum Clóvis Beviláqua, o Jornal O Povo, as clínicas da Aldeota, as indústrias de Maracanaú, os escritórios de contabilidade, os Shoppings. É a vida. Ganha-se dessa forma.
E dessa forma também se morre.


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