sábado, 31 de março de 2007

Simulacro & Mercado: Morgan


Miwa Yanagi




Germany May 1970

A dead man is driving an old Mercedes
straight at a brick wall.
He is only one hour dead,
his hands have been laid
realistically on the wheel
by Herr Rudi Ulenhaut
the development engineer.
Under his dropped jaw
An inflated safety air bag,
Waiting to be tested on impact,
Has just flown up
And broken his nose.

Edwin Morgan



Alemanha Maio 1970

Um morto conduz um velho Mercedes
direto a um muro de tijolos.
Ele morreu faz só uma hora,
as mãos foram postas ao volante
por Herr Rudi Ulenhaut
o engenheiro-projetista.
Sob o maxilar caído
um airbag inflável,
aguardando o teste de impacto,
acabou de encher-se
e quebrar-lhe o nariz.





Nota- o cineasta alemão Jean-Marie Straub já dizia no início dos 70' (mais ou menos à época em que Morgan escreveu este poema) que "os produtos são internacionais mas as obras [de arte] não; elas tornam-se internacionais, nascem particulares". Isto é mais verdadeiro que nunca no mundo dito "globalizado" em que vivemos. E o poema acima é um pequeno exemplo de como esses produtos são testados. Certamente há formas piores, com cobaias humanas. Vivas.




A informação quer tirar férias narrativas: Kees


Barnett Newman, 1946




Problems of a Journalist

“I want to get away somewhere and re-read Proust,”
Said an editor of Fortune to a man on Time.
But the fire roared and died, the phoenix quacked like a goose,
And all road to the country fray like shawls
Outside the dusk of suburbs. Pacing the halls
Where mile-high windows frame a dream with witnesses,
You taste, fantast and epicure, the names of towns along the coast,
Black roadsters throbbing on the highways blue with rain
Toward one lamp, burning on those sentences.

“I want to get away somewhere and re-read Proust,”
Said an editor of Newsweek to a man in Look.
Dachaus with telephones, Siberias with bonuses.
One reads, as winter settles on the town,
The evening paper, in an Irving Place café.

Weldon Kees



Problemas de um Jornalista

“Quero sair por aí e reler Proust”,
Disse o editor da Fortune prum cara da Time.
Mas o fogo avivou e morreu, e fênix grasnou feito um ganso,
E todas as vias para o interior puíram como xales
Lá fora, no ocaso dos subúrbios. Medindo os pátios
Onde janelas de milha de alto emolduram um sonho com >testemunhas,
Você saboreia, fantástico e epicúreo, os nomes de cidades costa >afora,
Carros negros pulsam nas vias-expressas azuis de chuva
Até uma lâmpada, calcinando as frases.

“Quero sair por aí e reler Proust”,
Disse o editor da Newsweek prum cara da Look.
Dachaus com telefones, Sibérias com brindes.
Alguém lê, no que o inverno instala-se na cidade,
O vespertino, em um Café Irving Place.

Mãos cegas sobre lã e destino: Carol Beadle


Rembrandt, Jacó acaricia Benjamin


Jacob Gets Isaac's Blessing


I drape goatskin around my arms and neck
so our blind father's stumbling hands
will identify his favourite, Esau,
hairy Esau, simple Esau, hunter, outdoor man.
He's after game to seal this blessing as I speak,
will be away for hours. Why not complete
what started with the exchange of his birthright
for a bowl of lentil stew? Careless.
He's a poor judge who finds them equal weight.
How would he manage servants, land
who can't govern his own appetite?
And even father's hurt about the foreign wives.

I'll cozen the old man with roasted kid
and fresh baked bread, as mother suggests.
Sometimes you have to lean on destiny.
A final touch, I'll wear my brother's clothes,
even his best retain the smell of fields and sweat.
I grasped him by the heel at birth. It's meant.

Carol Beadle



Jacó Toma a Benção de Isaac

Enrolei lã em volta dos braços e do colo
de modo que as mãos de nosso cego pai
identificasse seu favorito, Esaú,
Esaú hirsuto, Esaú simples, caçador, homem do campo.
Ele está fora do páreo para receber essa benção, asseguro,
vai estar longe por horas. Por que não completar
o que começou com a troca de sua primogenitura
por um prato de lentilhas? Avoado.
Mal juiz que é, acha a todos iguais.
como poderia gerir servos, terras
se não governa nem seu apetite?
E mesmo o pesar do pai pelas esposas estrangeiras.

Vou fazer cabrito assado para o velho
e carne fresca, como mamãe mandou.
Às vezes, deve-se curvar ao destino.
Um toque final, usarei as roupas de meu irmão,
mesmo as melhores retém seu cheiro de campo e suor.
Agarrei-o pelo calcanhar no parto. Está escrito.

Amedeo Modigliani, 1916

Certas mulheres casam-se com casas: Sexton




Housewife

Some women marry houses.
It’s another kind of skin; it has a heart,
a mouth, a liver and bowel movements.
The walls are permanent and pink.
See how she sits on her knees all day,
faifhfully washing herself down.
Men enter by force, drawn back like Jonah
Into their fleshy mothers.
A woman is her mother.
That’s the main thing.

Anne Sexton


Dona-de-casa

Certas mulheres casam-se com casas.
É um novo tipo de pele; tem um coração,
Uma boca, um mover de fígado e tripas.
As paredes são sempre e rosas.
Vejam como ela acocora-se o dia todo,
Decididamente asseando-se.
Homens entram à força, rearrastados como Jonas
Para suas mães carnudas.
Uma mulher é sua mãe.
Eis o ponto central.

sexta-feira, 30 de março de 2007


Matthew Daub, 2006

As mãos funcionam para uma cultura de pilar e lintel: Oppen




Workman

Leaving the house each dawn I see the hawk
Flagrant over the driveway. In his claws
That dot, that coma
Is the broken animal: the dangling small beast knows
The burden he is: he has touched
The hawks drab feathers. But the carpenter’s is a culture
Of fitting, of firm dimensions,
Of post and lintel. Quietly the roof lies
That the carpenter has finished. The sea birds circle
The beaches and cry in their own way,
The innumerable sea birds, their beaks and their wings
Over the beaches and the sea’s glitter.

George Oppen


Operário

Saindo de casa a cada manhã vejo o gavião
Flagrante sobre a rodovia. Em suas garras
Aquele ponto, aquela vírgula
É o animal partido: a pequena besta oscilante sabe
O quanto pesa: ela vem tocando
As pardas penas do gavião. Mas a do carpinteiro é uma cultura
De encaixes, de firmes dimensões,
De pilar e lintel. Quieto o teto jaz
Pois que o carpinteiro acabou. As aves-marinhas cercam
As praias e guincham a seu modo,
As incontáveis aves, seus bicos e asas
Sobre as praias e o brilho do sol.

quinta-feira, 29 de março de 2007


Wols, 1939

Ainda ele mesmo em meio a escombros: seis vezes Resnikoff




Aphrodite Vrania

The ceaseless weaving of the uneven water.


Afrodite Vrânia

A incessante trama da água irregular.



After Rain

The motor-cars on the shining street move in semicircles of
spray, semicircles of spray


Depois da Chuva

As motos pela rua lustrosa movem-se em semi-círculos de
jato, semi-círculos de jato.



[Among the heaps of brick and plaster lies]


Among the heaps of brick and plaster lies
a girder, still itself among the rubbish


[Entre as pilhas de tijolos e reboco jaz]

Entre pilhas de tijolos e reboco jaz
a viga, ainda ela mesma entre o entulho



[How shall we mourn you who are killed and
wasted]

How shall we mourn you who are killed and wasted,
sure you would not die with your work unended,
as if the iron scythe in the grass stops for a flower?


[Como prantear você que foi morto e
refugado]

Como prantear você que foi morto e refugado,
certo não morreria com seu trabalho a meio,
como se o aço da sega na relva parasse para a flor?



Hellenist

As I, barbarian, at last, although slowly, could read Greek,
as “blue-eyed Athena”
I greeted her picture that had long been on the wall:
the head slightly bent forward under the heavy helmet,
as if to listen; the beautiful lip slightly scornful.


Helenista

Como se eu, bárbaro enfim, embora lento, pudesse ler grego,
como a “Atena-de-olho-azul”
Saúdo sua imagem há tempo na parede:
a cabeça inclinada adiante sob o denso elmo,
como para ouvir; o belo lábio meio sobranceiro.



[In steel clouds]

In steel clouds
to the voice of thunder
like the ancient gods:
our sky, cement;
our trees, steel;
instead of sunshine
a light that has not twilight
neither morning nor evening,
only noon

Coming up the subway stairs, I thought the moon
only another street-light—
a little crooked.


[Em nuvens de aço]

Em nuvens de aço
à voz do trovão
como antigos deuses:
nosso céu, cimento;
nossas árvores, aço;
em vez de raio de sol
luz que não tem ocaso
nem manhã nem noite,
só lua

Subindo os degraus do metrô, tomei como lua
só outra lâmpada de poste—
meio curva.

Charles Resnikoff






Nota - Afrodite Vrânia=Afrodite Urânia (ou Afrodite-Celeste), a deusa do amor espiritual. A outra deusa grega mencionada, em "Helenista", é Atena, [Aθήνη], deusa da civilização, da sabedoria, da artesania -- e dos aspectos mais "civilizados" da guerra [os mais cruentos eram domínio de Ares]. Ironicamente, Resnikoff a esboça com um lábio desdenhoso e um tanto mexeriqueira. Estes seis poemas curtos são do início da longa carreira do poeta judeu-nova-iorquino. Anos 20 e 30. Na década de 30, Resnikoff, Zukofsky, Oppen e Lorine Niedecker lançaram o movimento objetivista -- uma das mais filosóficas, abstratas, vertentes poéticas jamais praticada nos Estados Unidos. O terceiro poema desta amostra -- que não segue nenhuma ordem livresca ou constitui uma sequência premeditada -- é um dos preferidos de George Oppen, que sempre o citava deformando-o. No caso, mudando a palavra final de "rubbish" [entulho] para "rubble" [cascalho].

quarta-feira, 28 de março de 2007


Virna Teixeira autografa 'Na Estação Central', semana que entra



o que um professor


de Glasgow e uma


neurologista


fortalezense tem


em comum, afinal?


o dia é 4 de abril


a hora é sete da noite


o local, a Unifor


o auditório é o A-3


a presença é Virna Teixeira


o convite é a todos


que querem levar


Na Estação Central


para casa ou simplesmente


ouvir o que uma mulher


inteligente tem pra fazer


nas horas (não tão) vagas


:


traduzir Edwin Morgan









Paul Klee, 1925

Suturar o olho enfermo na cabeça aberta em vávula: Heaney




Augury

The fish faced up into the current,
Its mouth agape,
Its whole head opened like a valve.
You said ‘It’s diseased.’

A pale crusted sore
Turned like a coin
And wound to the bottom,
Unsettling silt off a weed.

We hung charmed
On the trembling catwalk:
What can fend us now
Can soothe the hurt eye

Of the sun,
Unpoison great lakes,
Turn back
The rat on the road.

Seamus Heaney


Augúrio

O peixe perfilado na corrente,
A boca ágape,
A cabeça toda aberta como válvula.
Você disse ‘Está doente’.

Uma côdea chaga em crosta
Gira como moeda
E penetra até o fundo.
Alterada frincha de semente.

Reclinamos fascinados
Na vereda acidentada:
Ora o que pode partir-nos
Pode suturar o olho enfermo

Do sol.
Desinfetar grandes lagos,
Devolver
O rato á estrada.

terça-feira, 27 de março de 2007


Franz Kline



Lugar de retorno à epifania: Duncan




Often I Am Permitted to Return to a Meadow


as if it were a scene made-up by the mind,
that is not mine, but is a made place,

that is mine, it is so near to the heart,
an eternal pasture folded in all thought
so that there is a hall therein

that is a made place, created by light
wherefrom the shadows that are forms fall.

Wherefrom fall all architectures I am
I say are likenesses of the First Beloved
whose flowers are flames lit to the Lady.

She it is Queen Under The Hill
whose hosts are a disturbance of words
within words that is a field folded.

It is only a dream of the grass blowing
east against the source of the sun
in an hour before the sun's going down

whose secret we see in a children's game
of ring a round of roses told.

Often I am permitted to return to a meadow
as if it were a given property of the
mind that certain bounds hold against chaos,

that is a place of first permission,
everlasting omen of what is.

Robert Duncan



Volta e meia permito-me voltar a um prado


como se fosse uma cena da mente,
que não é minha, mas um lugar feito,

que é meu, tão perto do coração.
Um eterno prado dobra-se a cada pensamento
assim que há um vão entre eles

que é um lugar feito, criado pela luz
de onde as sombra que há formam outono.

De onde do outono todas as arquiteturas que sou
digo que lembram o Primeiro Amor
cujas flores são círios acesos à Senhora.

Ela é a Rainha de Sob o Serro
cujos hóspedes são a algazarra das palavras sem palavras
que é um campo dobrado

tão-só o sonho do capim ao vento
leste de encontro à fonte do sol
uma hora antes do sol se pôr

cujos segredo sabemos numa ciranda
de fazer girar o anel por rosas ditas.

Volta e meia permito-me voltar a um prado
como se ele fosse uma inata propriedade da mente
que certas linhas mantém contra o caos,

este é um lugar de permissão primeva,
sempiterno voto do que é.



Robert Rauschenberg



Quando piso em folhas secas: Derek Mahon




Leaves

The prisoners of infinite choice
Have built their house
In a field below the woods
And are at peace,

It is autumn, and dead leaves
On their way to the river
Scratch like birds at the windows
Or tick on the road.

Somewhere there is an afterlife
Of dead leaves,
A stadium filled with infinite
Rustling and sighing.

Somewhere in the heaven
Of lost futures
The lives we might have led
Have found their own fulfilment.

Derek Mahon


Folhas

Os prisioneiros da infinita escolha
Construíram suas casas
Num campo sob a mata
E estão em paz.

É outono, e as folhas mortas
Em seu caminho para o rio
Arranham como pássaros às janelas
Ou pulsam na estrada.

Algures há uma sobrevida
De folhas mortas,
Um estádio lotado de infinitos
Sussurros e suspiros.

Algures no horizonte
De extintos futuros
As vidas que podíamos ter levado
Encontraram seu próprio destino.

segunda-feira, 26 de março de 2007

Uma breve trégua: W. S. Merwin



When the War Is Over

When the war is over
We will be proud of course the air will be
Good for breathing at last
The water will have been improved the salmon
And the silence of heaven will migrate more perfectly
The dead will think the living are worth it we will know
Who we are
And will all enlist again

W. S. Merwin


Quando a Guerra Acabar

Quando a guerra acabar
Nos orgulharemos é claro o ar será
Respirável por fim
A água beneficiará o salmão
E o silêncio do céu migrará mais perfeitamente
Os mortos hão de pensar que os vivos o merecem e saberemos
Quem somos
E nos alistaremos de novo

Donald Allen Mosher, s/d

Dístico quase escrito por Cardozo: Campbell




Fishing Boats in Martigues

Around the quays, kicked off in twos
The Four Winds dry their wooden shoes.

Roy Campbell


Barcos de Pesca em Martigues

Em volta do cais, chutados aos pares
Os Quatro Ventos secam seus sapatos de ares.

domingo, 25 de março de 2007

Uma Encruzilhada Aprazível

Still: Gabriel Andrade, 2006

Convite para Cinéfilos

Amigos de Afetivagem, segue o convite para assistir hoje, 25 de março, às 23hs, na TV Cultura de São Paulo - ou na respectiva tv educativa de seu estado -, o documentário Uma Encruzilhada Aprazível (52 min.) 

Sinopse Ampliada: Em um entroncamento rodoviário no sertão do Ceará, o jogo entre a velocidade da passagem e o tempo lento de quem está fixo é o mote central de Uma Encruzilhada Aprazível. Tarefas de um extraordinária lentidão e desgaste físico - como o do processamento da cal em oficinas artesanais (caieiras), ou a criação de cabras são contrapostos à velocidade da passagem no pequeno distrito de Aprazível (30 Km de Sobral). O documentário toma como destino esse lugar essencialmente do trânsito, ponto de interseção entre diferentes geografias (sertão, serra, mar) do noroeste cearense. As atividades em torno de postos de gasolina, lanchonetes, borracharias, o pouso provisório de caminhoneiros e viajantes diversos, a feira de confecções mantida semanalmente. A pátina de óleo no calçamento do posto. A solidão noturna da garota de programa que aguarda sua vez à varanda de uma venda. O velho criador de cabras de memória vertiginosa e ar profético, ao modo de um Tirésias sertanejo. É como ver detidamente, com lupa, um ponto que é usualmente visto a 100 km por hora - o que faz lembrar o aforisma, famoso, de Wittgenstein: "um ponto no espaço é um lugar para um argumento". Jogando com ritmos e uma acuidada preocupação com o regime sonoro, o documentário busca traçar um retrato coletivo de um microcosmo, fugindo aos lugares comuns e à crosta de clichês mediante a qual se representa usualmente o sertão. Assim, despindo-se de depoimentos, centrando-se em sons, texturas e no gesto coletivo, o filme assoma como uma apreensão sinestésica de um local. Um local no senso que o poeta norte-americano Robert Creeley nos propõe: "o local não é um lugar, mas um lugar em uma determinada pessoa. A parte desse lugar para o qual ela tem sido trazida ou impelida pelo o amor, para dele dar testemunho."


Jean-Siméon Chardin, circa 1760

Natureza natimorta e sabor de pêssegos: Stevens




A Dish of Peaches in Russia

With my whole body I taste these peaches,
I touch them and smell them. Who speaks?

I absorb them as the Angevine
Absorbs Anjou. I see them as a lover sees,

As a young lover sees the first buds of spring
And the black Spaniard plays his guitar.

Who speaks? But is must be that I,
That animal, that Russian, that exile, for whom

The bells of the chapel pullulates sounds at
Heart. The peaches are large and round,

Ah! And red; and they had peach fuzz, ah!
They are full of juice and the skin is soft.

They are full of the colors of my village
And of fair weather, summer, dew, peace.

The room is quiet where they are.
The windows are open. The sunlight fills

The curtains. Even the drifting of the curtains,
Slight as it is, disturbs me. I did not know

That such ferocities could tear
One self form another, as these peaches do.

Wallace Stevens


Um Prato de Pêssegos na Rússia

Com todo meu corpo provo estes pêssegos,
Toco-os, cheiro-os. Quem fala?

Os absorvo como o angevino
Absorve Anjou. Vejo-os como um amante os vê,

Como um jovem amante vê os primeiros brotos da primavera
E o escuro espanhol toca seu violão.

Quem fala? Mas tem de ser aquele eu,
Aquele animal, aquele russo, aquele exílio, por quem

Os sinos da capela pululam sons no
Coração. Os pêssegos são graúdos e redondos,

Ah! e rubros; e têm felpa de pêssego, ah!
Estão plenos de sumo e a casca é macia.

Estão plenos de cores de minha aldeia.
E de tempo bom, verão, rocio, paz.

A sala está quieta onde eles ficam.
Janelas abertas. Raios de sol enchem

As cortinas. Mesmo o roçar das cortinas,
Leve como é, me perturba. Eu não sabia

Que tanta ferocidade podia rasgar
Um ser do outro, como estes pêssegos fazem.

sábado, 24 de março de 2007


Andy Warhol, 1962

Todo contato com as flores: Ashbery




A Vase of Flowers

The vase is white and would be a cylinder
If a cylinder were wider at the top than at the bottom.
The flowers are red, white and blue.

All contact with the flowers is forbidden.

The white flowers strain upward
Into a pallid air of their references,
Pushed slightly by the red and blue flowers.

If you were going to be jealous of the flowers,
Please forget it.
They mean absolutely nothing to me.

John Ashbery


Um Vaso de Flores


O vaso é branco e seria um cilindro
Se um cilindro fosse mais largo no topo que na base.
As flores são vermelhas, brancas e azuis.

Todo contato com as flores é proibido.

As flores brancas empertigam-se
Em um pálido ar de suas referências,
Premidas de leve pelas vermelhas e azuis.

Se você for ter ciúmes das flores,
Por favor, esqueça.
Elas não significam nada para mim.

sexta-feira, 23 de março de 2007


Rogério Silva, 2004

Minimalismo e prosaico: Hugo Williams




The Couple Upstairs

Shoes instead of slippers down the stairs,
She ran out with her clothes

And the front door banged and I saw her
Walking crookedly, like naked, to a car.

She was not always with him up there,
And yet they seemed inviolate, like us,
Our loves in sympathy. Her going

Thrills and frightens us. We come awake
And talk excitedly about ourselves, like guests.

Hugo Williams


O Casal de Cima

Sapatos ao invés de chinelos escada abaixo,
Ela apressa-se com suas coisas

E a porta da rua bate e a vejo
Caminhar recurva, como se nua, para o carro.

Nem sempre estava com ele lá em cima,
E, de resto, pareciam invioláveis, como nós,
Nossos amores cortejando-se. Sua partida

Nos intriga e assusta. Acordamos
A falar excitados sobre nós, como hóspedes.

quarta-feira, 21 de março de 2007


Piet Mondrian, 1922

Curvatura não é atributo -- um travelogue de Tomlinson



Netherlands

The train is taking us through a Mondrian—
The one he failed to paint. Cows
Keep moving along the lines
Of dyke and drain, the glinting parallels
And the right-angles of a land hand-made.
True: curvature is no feature of this view,
Yet why did the sky never cause him to digress
With its mile-high cloud mountains
Pillowed and piled over hill-lessness?
Flying between the two, go heron and gull
Haunters, hunters of every channel.
There are no verge unplanted, no acres spare:
Water continues accompanying our track,
Cows graze up to the factory windows and we are there.

Charles Tomlinson


Holanda

O trem nos conduz por um Mondrian—
Um que ele esqueceu de pintar. Vacas
Movem-se ao longo das linhas
De diques e drenos, os cintilantes paralelos
E os ângulos retos de um país feito à mão.
Certo: curvatura não é atributo desta vista,
Mas por que o céu nunca lhe impôs digredir
Com suas montanhas de meia-milha nubladas
Recortadas e sobrepostas às ausentes colinas?
Voando entre ambas, vão garça e gaivota
Caçando, caçando, a cada canal.
Não há terraços incultos, acres de reserva:
Água persiste em seguir nossa trilha.
Vacas pastam às janelas da fábrica e lá estamos.

Mirando a cal fria no transe dos blues: Gamoneda




Blues de la Casa

En mi casa estan vacías las paredes
y yo sufro mirando la cal fría.
Mi casa tiene puertas y ventanas:
no puedo suportar tanto agujero.

Aquí vive mi madre con sus lentes.
Aquí está mi mujer con sus cabellos.
Aquí viven mis hijas con sus ojos.
¿Por qué sufro mirando las paredes?

El mundo es grande. Dentro de una casa
No cabrá nunca. El mundo es grande.
Dentro de una casa—el mundo es grande—
No es bueno que haya tanto sufrimento.

Antonio Gamoneda


Blues da Casa

Na minha casa as paredes estão vazias
e eu sofro mirando a cal fria.
Minha casa tem portas e janelas:
não posso suportar tanta lacuna.

Aqui vive minha mãe com seus óculos.
Aqui está minha mulher com seus cabelos.
Aqui vivem minhas filhas com seus olhos.
Por que sofro mirando as paredes?

O mundo é grande. Dentro de uma casa
não caberá nunca. O mundo é grande.
Dentro de uma casa —o mundo é grande—
não é bom que haja tanto sofrimento.

terça-feira, 20 de março de 2007


Yutaka Toyota, Espaço Contrast, 1970

À frente de seu livre ar: Oppen




O Western Wind

A world around her like a shadow
She moves a chair
Something is being made—
Prepared
Clear in front of her open air

The space a woman makes and fills
After these years
I write again
Naturally, aboiut your face

Beautiful and wide
Blue eues
Across all my vision but glint of flesh
Blue eyes
In the subway routes, in the small rains
The profiles.

George Oppen


Ah Vento Oeste

Um mundo em torno de si como uma sombra
Ela arrasta uma cadeira
Algo é feito—
Preparado
Esclarecido à frente de seu livre ar

O espaço que uma mulher faz e ocupa
Depois destes anos
De novo escrevo
Naturalmente, sobre seu rosto

Belos e vastos
Olhos azuis
Ao longo de minha vista mas o brilho da carne
Olhos azuis
Nas rotas do metrô, nas pequenas chuvas
Os perfis.




Nota - 'O Western Wind' (ver abaixo) era o poema preferido de George Oppen. Na peça acima, dedicada à mulher, Mary Colby Oppen, ele o parafraseia.

Quadra medieval inglesa traduzida a Nordeste




‘O Western Wind’

O Western wind, when wilt thou blow
That the small rain down can rain?
Christ, that my love were in my arms,
And I in my bed again!

Anônimo sec. XV


‘Ah Vento Oeste’

Ah vento oeste quando soprares
O chuvisco vai ter sede?
Virgem, se meu amor em meus braços,
E eu de novo em minha rede!

segunda-feira, 19 de março de 2007



Edward Hooper, Morning Sun, 1951

Acastanhando uma forte fé: O'Hara




Song for Lotta

You’re not really sick
if you’re not sick with love
there is no medicine

the busy grass can grow
again but love’s a witch
that poisons the earth

you’re not really sick
if you think of love as
a summer’s vacation

I’m going to die unless
my love soon chases
the clouds away

and the azure smiles
and browns my strong
belief that love is.

Frank O'Hara


Canção para Lotta

Você não está mesmo mal
se não está mal de amor
não há remédio

o afobado capim pode crescer
de novo mas amor é bruxaria
que corrompe a terra

você não está mesmo mal
se pensa no amor
como férias de verão

eu vou morrer salvo
se meu amor não espantar logo
as nuvens pra longe

e o azul-do-céu sorrir
e acastanhar minha forte
fé que o amor é.






Nota- agradeço ao poeta Aldir Brasil Jr. por me ter recém-fanqueado a obra completa (os Collected Poems) de Frank O'Hara, de onde foi extraído o original acima, bem como por me haver sugerido uma leitura inicial de tão instigante poeta, no ano da graça de 2003.

Alexander Zhernokliuev, 2007

Tudo que é adorável nas mulheres: Creeley



All that is lovely in men

Nothing for a dirty man
than soap in his bathtub, a

a greasy hand, lover’s nuts
perhaps. Or else

something like sand
with which to scour him

for all
that is lovely in women.

Robert Creeley


Tudo o que é adorável nos homens


Nada para um homem sujo
como sabão em sua pia, uma

mão escorregadia, leros
de amantes

talvez. Ou então

algo como areia
com o que arejá-lo

para tudo
que é adorável nas mulheres.

Marc Chagall, 1911

Dupla visão adâmica: Levertov & MacCaig




Adam's complaint

Some people,
no matter what you give them,
still want the moon.
The bread, the salt,
white meat and dark,
still hungry.
The marriage bed
and the cradle,
still empty arms.
You give them land,
their own earth under their feet,
still they take to the roads.
And water: dig them the deepest well,
still it's not deep enough
to drink the moon from.

Denise Levertov


A queixa de Adão

Alguns,
não importa o que lhes é dado,
ainda querem a lua.
O pão, o sal,
carne branca ou vermelha,
ainda dão fome.
O leito nupcial
e o berço,
ainda cruzam braços.
Recebem terras,
seu próprio chão sob os pés,
e ainda tomam estradas.
E água: escava-se poço mais fundo,
não é fundo bastante
para beber a lua.



Changes in the Same Thing

I'd seen her in stones
and behind rain and after minutes.
I'd spoken to her
in all the modes of silence, I'd measured her
with my eyelash thoughts.

Then she came: and was a hand
that took the place of everything -
till I saw her hair and it became
everywhere's nights and days -
tillI saw the way she looked at me:
and I knew how Adam felt
when he woke from that deepest sleep
and, for the first time,
saw Her in the Garden.

Norman MacCaig


Mundanças na Mesma Coisa

Eu a vira nas pedras
e por trás da chuva e depois de minutos.
Falara com ela
em todos os modos de silêncio, medi-lhe
com os pensamentos de meus cílios.

Então ela veio: e foi uma mão
que tomou o lugar de tudo –
até eu ver seu cabelo tornar-se
todo o lugar em dias e noites – até
ver o jeito que ela me olhava:
e eu soube como Adão sentiu-se
quando despertou daquele fundo sono
e, pela primeira vez,
viu-A no Jardim.

domingo, 18 de março de 2007



Walt Disney

A Biographia de Coleridge acrescida de um "auto": O'Hara



Autobiographia Literaria

When I was a child
I played by myself
in a corner of the schoolyard
all alone.

I hated dolls and I
hated games, animals were
not friendly and birds
flew away.

If anyone was looking for
me I hid behind a
tree and cried out "I am
an orphan."

And here I am,
the center of all beauty!
writing these poems!
Imagine!

Anonymous submission.

Frank O'Hara


Autobiographia Literaria


Quando era pequeno
eu me entretinha num
canto do pátio da escola
sozinho.

Detestava bonecos e
jogos, animais não
eram amigos e passarinhos
fugiam.

Se alguém andava atrás de
mim, me escondia atrás duma
árvore e gritava “sou
órfão”.

E aqui estou, o centro
de toda beleza!
escrevendo esses poemas!
Imagine!

Submissão anônima.


Juan Gris, 1912

Latência de sangue nas pálpebras: Biedma




IDILIO EN EL CAFÉ

Ahora me pregunto si es que toda la vida
hemos estado aquí. Pongo, ahora mismo,
la mano ante los ojos -qué latido
de la sangre en los párpados- y el vello
inmenso se confunde, silencioso,
a la mirada. Pesan las pestañas.

No sé bien de qué hablo. ¿Quiénes son,
rostros vagos nadando como en un agua pálida,
éstos aquí sentados, con nosotros vivientes?
La tarde nos empuja a ciertos bares
o entre cansados hombres en pijama.

Ven. Salgamos fuera. La noche. Queda espacio
arriba, más arriba, mucho más que las luces
que iluminan a ráfagas tus ojos agrandados.
Queda también silencio entre nosotros,
silencio
y este beso igual que un largo túnel.


Jaime Gil de Biedma



IDÍLIO NUM CAFÉ

Agora me pergunto se por toda a vida
temos ficado aqui. Ponho, agora mesmo,
a mão sobre os olhos –que latência
de sangue nas pálbebras –e a felpa
imensa se confunde, silenciosa,
à vista. As pestanas pensam.

Não sei bem do que falo. Quem são,
rostos vagos nadando como em água pálida,
estes sentados aqui, conosco viventes?
A tarde nos empurra a certos bares
Ou entre cansados homens de pijama.

Vem. Vamos para fora. A noite. Falta espaço
acima, mais acima, muito além das luzes
que iluminam a lufadas teus olhos avultados,
queda também silêncio entre nós,
silêncio,
e este beijo igual a um longo túnel.

O mito em platinum assombra: Olds



The Death of Marilyn Monroe

The ambulance men touched her cold
body, lifted it, heavy as iron,
onto the stretcher, tried to close the
mouth, closed the eyes, tied the
arms to the sides, moved a caught
strand of hair, as if it mattered,
saw the shape of her breasts, flattened by
gravity, under the sheet
carried her, as if it were she,
down the steps.

These men were never the same. They went out
afterwards, as they always did,
for a drink or two, but they could not meet
each other's eyes.

Their lives took
a turn--one had nightmares, strange
pains, impotence, depression.
One did notlike his work, his wife looked
different, his kids. Even death
seemed different to him--a place where she
would be waiting,

and one found himself standing at night
in the doorway to a room of sleep,
listening to awoman breathing,
just an ordinary
woman
breathing.

Sharon Olds


A Morte de Marilyn Monroe

Os homens da ambulância tocaram seu corpo
frio, ergueram-no, pesado como ferro,
para a maca, tentaram fechar a
boca, fechar os olhos, amarrar
os braços aos flancos, arrumar um fio de cabelo
rebelde, como se importasse,
viram o contorno dos seios, aplainados pela
gravidade, sob o lençol
conduziram-na, como se fosse ela,
degraus abaixo.

Esses homens nunca mais foram os mesmos. Eles saíam
depois, como sempre faziam,
para um drinque ou dois, mas não eram capazes
de se olhar nos olhos.

Suas vidas deram uma
guinada—um tinha pesadelos, estranhas
dores, impotência, depressão. Outro não
gostava do trabalho, a mulher parecia diferente,

os filhos. Mesmo a morte
parecia diferente para ele—um lugar onde ela o
estaria aguardando,

e um achou-se de pé à noite
à porta do quarto de dormir, ouvindo
uma mulher respirando,
só uma mulher
comum
respirando.


sábado, 17 de março de 2007


© Ray

O poema e "teste de verdade": Oppen




THE ZULU GIRL

Her breasts
Naked, the soft
Small hollow in the flesh
Near the arm pit, the tendons
Presenting the gentle breasts
So boldly tipped

With her intimate
Nerves

That touched, would touch her
Deeply—she stands
In the wild grasses.

George Oppen


A GAROTA ZULU

Seus seios
Nus, a suave
Pequena cava na carne
Rente á axila, os tendões
Apresentando os belos seios
Tão impudentes, eriçados

Com seus íntimos
Nervos

Que tocavam, iam tocá-la
Fundo—ela resta
Na mata selvagem

Nossas férias nos entreviam: Hugo Williams



Holidays

We spread our things in the sand
In front of the hotel
And sit for hours on end
Like merchants under parasols
Our thoughts following the steamers
In convoy across the bay
While far away
Our holidays look back at us in surprise
From fishing boats and fairs
Or wherever they were going then
In their seaweed headresses.

Hugo Williams


Férias

Espalhamos nossas coisas na areia
Diante do hotel
E sentamos por horas a fio
Como mercadores sob guarda-sóis
Nossas conjeturas seguindo os vapores
Em comboio pela baía
Enquanto à distância
Nossas férias nos entreviam surpresas
De barcos de pesca e feiras
Ou onde quer que estivessem indo
Em seus véus de alga-marinha.

Ana de Sousa

Perfuro a noite ferroviária: Esquivias




Viaje a Oporto

Despierto con la cabeza sobre el cristal
y siento de repente el frío
como un lametón
del animal que me cuida.
Perforo con los ojos la noche
buscando algo que se mueve,
formas humanas entre el frío y la humedad.
Los trenes se acoplan con ruido de bestias
en una estación portuguesa.
Un haz de raíles en la explanada.
Un silbato largo, un farolillo que oscila.
Los edificios chorrean agua.
Me despido de las pocas luces,
de las voces portuguesas,
de la suciedad,
de esta estación fronteriza,
agitando la mano ante la noche
como un príncipe se despediría
de la multitud que le aclama.

Óscar Esquivias


Viagem ao Porto

Desperto com a cabeça sobre a vidraça
e sinto de repente o frio
como uma lambida
do animal que me cuida.
Perfuro com os olhos a noite
buscando algo que se move,
formas humanas entre o frio e a umidade.
Os trens engatam-se com ruído de bestas
numa estação portuguesa.
Um feixe de trilhos na esplanada.
Um apito longo, um farolzinho que oscila.
Os edifícios jorram água.
Me despeço das poucas luzes,
das vozes portuguesas
da sujidade,
desta estação fronteiriça,
agitando a mão ante a noite
como um príncipe se despediria
da multidão que o aclama.










Glasgow Central, anon.

Cintilante ramo de visco: Edwin Morgan

Para saber sobre a tradição do ramo de visco, clique AQUI


Trio


Coming up Buchanan Street, quickly, on a sharp winter evening
a young man and two girls, under the Christmas lights –
the young man carries a new guitar in his arms,
the girl on the inside carries a very young baby,
and the girl on the outside carries a chihuahua.
And the three of them are laughing, their breath rises
in a cloud of happiness, and as they pass
the boy says, ‘Wait till he sees this but!’
the chihuahua has a tiny Royal Stewart tartan coat like a teapot-
holder,
the baby in its white shawl is all bright eyes and mouth like favours
in a fresh sweet cake,
the guitar swells out under its milky plastic cover, tied at the neck
with silver tinsel tape and a brisk sprig of mistletoe.
Orpehan sprig! Melting baby! Warm chihuahua!
The vale of tears is powerless before you.
Whether Christ is born, or is not born, you
Put paid to fate, it abdicates
under the Christmas lights.
Monster of the year
go blank, are scattered back,
can’t bear this march of three.

― And the three have passed, vanished in the crowd
(yet not vanished, for in their arms they wind
the life of men and beasts, and music,
laughter ringing them round like a guard)
at the end of the winter’s day.

Ewin Morgan


Trio


Subindo a Rua Buchanan, rapidamente, numa cortante noite de
>inverno
um rapaz e duas moças, sob as luzes natalinas —
o rapaz porta um violão novo à tiracolo,
a moça do meio, um bebê de meses,
a moça do extremo, um chihuahua.
E os três riem, seus risos condensando
uma nuvem de alegria, e no que eles passam
o rapaz diz: ‘Esperem só ele ver essa!’
o chihuahua traz uma minúscula capa de camareiro real em tartã >feito um suporte de
chaleira,
o bebê é todo reluzentes olhos e boca ao modo de glacê
num saboroso bolo fresco,
a guitarra avulta sob a capa plástica leitosa, presa na paleta
por uma fita de ouropel prateada e um cintilante ramo de visco.
Órfico ramo! Terna criança! Adorável chihuahua!
o vale de lágrimas é impotente ante vós.
Se Cristo nasceu ou não, vocês
deram paga do destino, e ele abdicou
sob as luzes de Natal.
Monstros do ano
passam batidos, postos em fuga,
não podem com essa marcha de três.

E os três se foram, dissolveram-se na multidão
(embora não se dissolveram, pois em seus braços arejam
a vida de homens e bestas, e música,
o riso cercando-os como uma guarda)
no fim deste dia de inverno.





Nota: para conhecer outros poemas e familiarizar-se com a obra de Edwin Morgan, uma boa-nova: a poeta e tradutora Virna Teixeira recém-lançou, em São Paulo, Na Estação Central, primeira reunião em livro, no Brasil, desse versátil poeta escocês . O volume, com elucidativo prefácio de Virna, foi impresso pela Editora da UnB (Universidade de Brasília). Para mais detalhes: Papel de Rascunho.

Um salmo entrevisto no metrô: Levertov




O Taste and See

The world isnot with us enough
O taste and see
the subway Bible poster said,
meaning The Lord, meaning
if anything all that lives
to the imagination’s tongue,
grief, mercy, language,
tangerine, weather, to
breathe them, bite,
savor, chew, swallow, transform
into our flesh our
deaths, crossing the street, plum, quince,
living in the orchard and being
hungry, and plucking
the fruit.

Denise Levertov


Ah Provem e Vejam

O mundo não está
conosco o bastante
Ah Provem e Vejam
dizia o pôster bíblico no metrô,
implicando o Senhor, implicando
cada coisa no tudo que vive
para a o sabor da imaginação,
mágoa, mercê, tangerina, temperatura,
respirá-las, morder,
saber, mascar, engolir, transformar
em nossa carne nossas
mortes, atravessar a rua, ameixa, marmelo
vivendo no pomar e tendo
fome, e colhendo
a fruta.




Nota- o salmo ao qual Levertov faz referência é o 34 ("Provai e vede que o Senhor é bom!")

sexta-feira, 16 de março de 2007



Jenny Holzer, 1986

Ah, Lana Turner, nós te adoramos: O'Hara e joie de vivre



Poem

Lana Turner has collapsed!
I was trotting along and suddenly
it started raining and snowing
and you said it was hailing
but hailing hits you on the head
hard so it was really snowing and
raining and I was in such a hurry
to meet you but the traffic
was acting exactly like the sky
and suddenly I see a headline
LANA TURNER HAS COLLAPSED!
there is no snow in Hollywood
there is no rain in California
I have been to lots of parties
and acted perfectly disgraceful
but I never actually collapsed
oh Lana Turner we love you get up

Frank O'Hara


Poema

Lana Turner desmaiou!
eu andava por aí e então
começou a chover e nevar
e você disse que era granizo
mas granizo bate tão forte
na cabeça que, de resto, era neve e
chuva e eu estava tão doido
pra te encontrar mas o tráfego
agia exatamente como o céu
e aí eu vi uma manchete
LANA TURNER DESMAIOU!
não há neve alguma em Hollywood
não chove na Califórnia
tenho ido a muitas festas
e agido como um perfeito imbecil
mas é fato nunca desmaiei
ah Lana Turner nós te adoramos, levanta




Nota: esta tradução, com ligeira variância, foi inicialmente publicada em Fortaleza Voadora Nº2, julho de 2003

Tetto Giko, Era Nanbokucho, sec. XIV.

No ar resinoso: Hass legenda Kurosawa



Heroic Simile

When the swordsman fell in Kurosawa's Seven Samurai
in the gray rain,
in Cinemascope and the Tokugawa dynasty,
he fell straight as a pine, he fell
as Ajax fell in Homer
in chanted dactyls and the tree was so huge
the woodsman returned for two days
to that lucky place before he was done with the sawing
and on the third day he brought his uncle.

They stacked logs in the resinous air,
hacking the small limbs off,
tying those bundles separately.
The slabs near the root
were quartered and still they were awkwardly large;
the logs from midtree they halved:
ten bundles and four great piles of fragrant wood,
moons and quarter moons and half moons
ridged by the saw's tooth.

The woodsman and the old man his uncle
are standing in midforest
on a floor of pine silt and spring mud.
They have stopped working
because they are tired and because
I have imagined no pack animal
or primitive wagon. They are too canny
to call in neighbors and come home
with a few logs after three days' work.
They are waiting for me to do something
or for the overseer of the Great Lord
to come and arrest them.

How patient they are!
The old man smokes a pipe and spits.
The young man is thinking he would be rich
if he were already rich and had a mule.
Ten days of hauling
and on the seventh day they'll probably
be caught, go home empty-handed
or worse. I don't know
whether they're Japanese or Mycenaean
and there's nothing I can do.
The path from here to that village
is not translated. A hero, dying,
gives off stillness to the air.
A man and a woman walk from the movies
to the house in the silence of separate fidelities.
There are limits to imagination.

Robert Hass


Símile Heróica

Quando o espadachim caiu nos Sete Samurais de Kurosawa
na chuva gris,
em Cinemascope e na Dinastia Tokugawa,
caiu reto como um pinho, caiu
como Ájax em Homero,
em datílicos cantantes e a árvore era tão maciça
que o lenhador voltou por dois dias
antes de concluir a serragem
e no terceiro dia trouxe seu tio.

Eles empilharam lenha no ar resinoso,
desbastando os galhos finos,
amarrando os feixes em separado.
As lousas rente à estrada
eram quartadas e quietas, ineptamente grandes;
as toras que eles mearam:
dez feixes e três grandes pilhas de madeira fragrante,
luas e quartos de lua e meias-luas
sulcados pelo dente da serra.

O lenhador e seu velho tio
restam floresta a meio
num chão de lascas de pinho e lama de nascente.
Suspenderam o trabalho
por cansaço e porque não vislumbrei
qualquer animal de tração
ou carreta rústica. São muito prudentes
para chamar vizinhos e voltam para casa
com algumas toras depois de três dias de trabalho.
Esperam que eu faça algo
ou pelo feitor do Grão Senhor
vir aprisioná-los.

Como são pacientes!
O velho fuma um cachimbo e cospe.
O jovem pensa que seria rico
se já fosse rico e tivesse uma mula.
Dez dias de frete
e no sétimo provavelmente
seriam pegues, retornariam de mãos vazias
ou pior. Não sei se são japoneses ou micenos
e nada posso fazer.
A trilha daqui àquela vila
não está traduzida. Um herói, morrendo,
cede quietude ao ar.
Um homem e uma mulher saem do cinema
para casa no silêncio de suas separadas fidelidades.
São limites de imaginação.

quinta-feira, 15 de março de 2007



Éugene Atget

Um calendário frustrante: Pound




And the days are not full enough

And the days are not full enough
And the nights are not full enough
And life slips by like a field mouse
Not shaking the grass

Ezra Pound


E dias não são bastante plenos

E dias não são bastante plenos
E noites não são bastante plenas
E vida escapa como rato silvestre
Sem mover grama

A ranhura do olho abrindo-se em tempo: Duncan




What I Saw

The white peacock roosting
might have been Christ,

featherd robe of Osiris,

the radiant bird, a sword-flash,

percht in the tree

and the other, the fumed-glass slide

—were like night and day,

the slit of an eye opening in

time


Robert Duncan



O que vi

O pavão branco pousado
podia ter sido Cristo,

emplumado manto de Osíris,

ave radiante, uma faísca-espada,

empoleirada à árvore

e o outro, vidro-fumê no trilho

—era como noite e dia,

a ranhura de um olho abrindo-se em

tempo

quarta-feira, 14 de março de 2007





Francisco de Goya, Los fusilamentos del 3 de mayo

Em pedra e sonho uma fonte onde a água chore e diga: Machado encomenda Lorca



El crimen fue en Granada


1. El crimen

Se le vio, caminando entre fusiles,
por una calle larga,salir al campo frío,
aún con estrellas, de la madrugada.
Mataron a Federicocuando la luz asomaba.
El pelotón de verdugos no osó mirarle la cara.
Todos cerraron los ojos;rezaron: ¡ni Dios te salva!
Muerto cayó Federico
-sangre en la frente y plomo en las entrañas-
....Que fue en Granada el crimen
sabed -¡pobre Granada-, en su Granada...

2. El poeta y la muerte

Se le vio caminar sólo con Ella,
sin miedo a su guadaña.
-Ya el sol en torre y torre; los martillos
en yunque y yunque de las fraguas.
Hablaba Federico,
requebrando a la muerte. Ella escuchaba.
'Porque ayer en mi verso, compañera,
sonaba el golpe de tus secas palmas,
y diste el hielo a mi cantar, y el filo
a mi tragedia de tu hoz de plata,
te cantaré la carne que no tienes,
los ojos que te faltan,
tus cabellos que el viento sacudía,
los rojos labios donde te besaban...
Hoy como ayer, gitana, muerte mía,
qué bien contigo a solas,
por estos aires de Granada, ¡mi Granada!'

3.

Se le vio caminar...
Labrad amigos,
de piedra y sueño, en la Alhambra,
un túmulo al poeta,
sobre una fuente donde llore el agua,
y eternamente diga:
el crimen fue en Granada, ¡en su Granada!

Antonio Machado




O crime foi em Granada

1. O crime

Foi visto, caminhando entre fuzis,
por uma rua larga,
sair ao campo frio,
ainda com as estrelas, da madrugada.
Mataram Frederico
quando a luz assomava.
O pelotão de verdugos
não ousou ver sua cara;
rezaram: nem Deus te salva!
Morto caiu Frederico.
—sangue á frente e chumbo nas entranhas—
...Que foi em Granada o crime
sabeis – pobre Granada! – em sua Granada...

2. O poeta e a morte

Foi visto caminhar a sós com Ela,
sem medo de sua foice.
—O sol já de torre em torre, os martelos
na bigorna. Bigorna e bigorna das forjas.
Falava Frederico,
Cortejando a morte:
‘por que ontem em meu verso, companheira,
soava o golpe de tuas secas palmas,
e deste o gelo a meu cantar, e fio
à minha tragédia na tua sega de prata,
cantarei a carne que não tens,
os olhos que te faltam,
teus cabelos que o vento sacodia,
os lábios roxos em que te beijavam...
Hoje, como ontem, cigana, morte minha,
que venho contigo a sós,
por esses ares de Granada, minha Granada.’

3.

Foi visto caminhar...
Lavrai, amigos, em pedra e sonho, na Alhambra,
um túmulo ao poeta
sobre uma fonte onde a água chore
e diga eternamente:
O crime foi em Granada, na sua Granada!

terça-feira, 13 de março de 2007


Hans
Hoffman,
1966

Certo fastio: O'Hara



Spleen

I know so much
about things, I accept
so much, it's like
vomiting. And I am
nourished by the
shabbiness of my
knowing so much
about others and what
they do, and accepting
so much that I hate
as if I didn't know
what it is, to me.
And what it is to
them I know, and hate.

Frank O'Hara


Spleen

Sei tanto sobre
as coisas, aceito
tanto, é feito
vomitar. E sou
nutrido pela
sovinice de saber-
me tão bom avalista
dos outros e do que
fazem, e aceitar
tanto do que odeio
como se não soubesse
o que é isso pra mim.
O que é para
eles eu sei, e odeio.

Depois da Chuva, Fedor Vasilyev, 1867

Úmida com decente felicidade: Creeley



The Rain


All night the sound had
come back again,
and again falls
this quite, persistent rain.

What am I to myself
that must be remembered,
insisted upon
so often? Is it

that never the ease,
even the hardness,
of rain falling
will have for me

something other than this,
something not so insistent--
am I to be locked in this
final uneasiness.

Love, if you love me,
lie next to me.
Be for me, like rain,
the getting out

of the tiredness, the fatuousness, the semi-
lust of intentional indifference.
Be wet
with a decent happiness.


Robert Creeley



A Chuva


Toda a noite o som
vem de novo,
e de novo cai
essa chuva quieta, persistente.

Que sou eu para mim
que precisa ser lembrado,
reiterado
tão a miúdo. Será

que nunca a calma,
ou mesmo aspereza,
da chuva caindo
terá para mim

algo mais que isso,
algo não tão sublinhado---
e vou ficar preso nesse
desconforto final.

Amor, se me amas,
deita a meu lado.
sê para mim, como chuva,
o alívio do

cansaço, da insensatez, da semi-
lascívia da indiferença intencional.
Sê úmida
com decente felicidade.

segunda-feira, 12 de março de 2007


Chardin, 1765

De ameixas saboreadas na clandestinidade: Koch



Variations On A Theme By William Carlos Williams

1
I chopped down the house that you had been saving to live in next summer.
I am sorry, but it was morning, and I had nothing to do
and its wooden beams were so inviting.

2
We laughed at the hollyhocks together and then I sprayed them with
> lye.
Forgive me. I simply do not know what I am doing.

3
I gave away the money that you had been saving to live on for the
next ten years.
The man who asked for it was shabby
and the firm March wind on the porch was so juicy and cold.

4
Last evening we went dancing and I broke your leg.
Forgive me. I was clumsy and
I wanted you here in the wards, where I am the doctor!

Kenneth Koch



Variações Sobre Um Tema de William Carlos Williams


1
Eu abati a casa que você tinha reservado para morar no verão.
Me desculpe, mas era de manhã, estava desocupado
E os caibros de madeira eram bem convidativos.

2
Rimos ante as malvas-rosas juntos
E então as borrifei com detergente.
Desculpe-me. Simplesmente não sei o que ando fazendo.

3
Passei adiante o dinheiro que você economizou para viver pelos próximos dez anos.
O homem que me pediu era sovina
E o firme vento de março na varanda, tão refrigerante.

4
Ontem saímos para dançar e quebrei sua perna.
Perdoe-me, sou desastrado e
Queria que você ouvisse nas enfermarias, onde eu sou médico!



Nota -- ora em diante o símbolo ">" (aqui empregado no 2º v, da 2ª estrofe do original em inglês) indica uma continuidade da linha. De resto, o poema de Williams ao qual Koch se refere é "This is just to say".

domingo, 11 de março de 2007

Algum florilégio em breve: Ashbery



WHAT IS POETRY


The medieval town, with frieze
Of boy scouts from Nagoya? The snow

That came when we wanted it to snow?
Beautiful images? Trying to avoid

Ideas, as in this poem? But we
Go back to them as to a wife, leaving

The mistress we desire? Now they
Will have to believe it

As we believed it. In school
All the thought got combed out:

What was left was like a field.
Shut your eyes, and you can feel it for miles around.

Now open them on a thin vertical path.
It might give us--what?--some flowers soon?


John Ashbery



O QUE É POESIA


A cidade medieval, com a faixa
De escoteiros de Nagoya? A neve

Que sobreveio quando desejamos neve?
Belas imagens? Tentar evitar as

Idéias, como neste poema? Mas nós
Voltamos para elas como para a esposa, abandonando

A amante que queremos? Agora elas
Terão de acreditá-lo

Como nós acreditamos. Na escola
Todos os pensamentos foram esquadrinhados:

O que restou foi uma espécie de campo.
Feche os olhos e será capaz de senti-lo milhas adiante.

Agora os abra numa esguia trilha vertical.
E ele poderá nos dar–o quê?– algumas flores em breve?

Um mensageiro imperial às avessas na cabeça do consumo: Ashbery



At North Farm

Somewhere someone is traveling furiously toward you,
At incredible speed, traveling day and night,
Through blizzards and desert heat, across torrents, through narrow [passes.
But will he know where to find you,
Recognize you when he sees you,
Give you the thing he has for you?

Hardly anything grows here,
Yet the granaries are bursting with meal,
The sacks of meal piled to the rafters.
The streams run with sweetness, fattening fish;
Birds darken the sky. Is it enough
That the dish of milk is set out at night,
That we think of him sometimes,
Sometimes and always, with mixed feelings?

John Ashbery


Em North Farm

Algures alguém viaja furiosamente a teu encontro,
Numa incrível velocidade, por dias e noites,
Por nevasca e calor de deserto, por torrentes, cruzando desfiladeiros.
Mas será que vai te achar,
Te reconhecer quando te encontrar,
Entregar o que tem pra te dar?

Quase nada cresce aqui,
Mas os silos transbordam de cereais,
Os sacos de cereais empilham-se às vigas.
O riacho corre doce, peixes graúdos;
Aves encobrem o céu. Basta
Que a garrafa de leite vazia seja posta à noite,
Para que lembremos dele às vezes,
Às vezes e sempre, com sentimentos ambíguos?

Mulher com o martelo
Charles Thomson, 1999

Sereia e garçonete: Gluck



Siren

I became a criminal when I fell in love.
Before that I was a waitress.

I didn't want to go to Chicago with you.
I wanted to marry you, I wanted
Your wife to suffer.

I wanted her life to be like a play
In which all the parts are sad parts.

Does a good person
Think this way? I deserve

Credit for my courage--

I sat in the dark on your front porch.
Everything was clear to me:
If your wife wouldn't let you go
That proved she didn't love you.
If she loved you
Wouldn't she want you to be happy?

I think now
If I felt less I would be
A better person. I was
A good waitress.
I could carry eight drinks.

I used to tell you my dreams.
Last night I saw a woman sitting in a dark bus--
In the dream, she's weeping, the bus she's on
Is moving away. With one hand
She's waving; the other strokes
An egg carton full of babies.

The dream doesn't rescue the maiden.


Louise Gluck



Sereia


Tornei-me uma delinqüente quando me apaixonei.
Antes disso eu era garçonete.

Não queria ir com você para Chicago.
Queria me casar. Queria
Fazer tua mulher sofrer.

Queria que a vida dela se tornasse uma peça
Em que todos os atos fossem tristes.

Uma pessoa do bem
Pensa assim? Mereço

Crédito pela coragem--

Sentei-me no escuro diante de tua porta.
Tudo era claro para mim:
Se tua mulher não te deixasse ir
Era a prova de que não te amava.
Se te amava
Não desejaria te ver feliz?

Agora creio
Que se sentisse menos
Seria melhor pessoa. Eu era
Boa garçonete.
Podia com oito drinques.

Costumava a te contar meus sonhos.
Ontem à noite vi uma mulher sentada num ônibus escuro --
No sonho, ela chorava, e o ônibus
Afastava-se. Com uma das mãos,
Ela acenava; a outra golpeava
Um ovo de papelão repleto de bebês.

O sonho não resgatou a donzela.



Wols, Composition Jaune, 1947

Viver fora dos dias: Larkin



Days

What are days for?
Days are where we live.
They come, they wake us
time and time over.
They are to be happy in:
where can we live but days?

Ah, solving that question
brings the priest and the doctor
in their long coats
running over the fields.


Philip Larkin



Dias

Para que servem dias?
Dias é onde vivemos.
Eles vêm, nos acordam
sempre e de novo.
São para neles sermos felizes:
onde viver senão em dias?

Ah, a resposta desta questão
traz padre e médico
em suas longas capas
correndo pelos campos.



Nota: a tradução deste poema foi inicialmente publicada no jornal O Povo, em 1993.